Folha de S. Paulo


Crítica: Filme 'Livre' é versão feminina de 'Na Natureza Selvagem'

Tem várias maneiras de se pensar sobre o filme "Livre", com Reese Witherspoon, dirigido por Jean-Marc Vallée (de "Clube de Compras Dallas", que rendeu o Oscar a Matthew McConaughey), com roteiro de Nick Hornby ("Alta Fidelidade", "Um Grande Garoto").

É um filme de superação feminina, como "Comer, Rezar, Amar" (2010), só que mais intenso. É sobre a relação mãe e filha, como "Laços de Ternura" (1983), só que depois da morte. É uma história de atos extremos provocados pela perda da mãe, como "Forrest Gump" (1994), mas um drama, não uma farsa.

É um road movie, como "Na Natureza Selvagem" (2007), só que versão feminina. Essa última é a comparação mais justa, tanto pela qualidade do longa quanto pela óbvia inspiração.

Baseado na autobiografia de Cheryl Strayed, lançada em 2012, "Livre" conta a história da autora, que, em 1995, aos 20 e poucos anos, fez uma caminhada de 1.800 km pela costa oeste dos EUA, da fronteira com o México até a do Canadá.

Ela anda boa parte da Pacific Crest Trail, um caminho que só pode ser trilhado a cavalo ou a pé e que corta os Estados da Califórnia, Oregon e termina em Washington (o Estado, não a capital do país). Passa pelo deserto de Mojave, por florestas e reservas e chega à friaca do extremo norte dos EUA.

Ao longo do trajeto, descobrimos por flashbacks que Cheryl se impôs esse desafio como maneira metafórica de superar o sofrimento. Sua vida estava pesada como a mochila que carrega, desconfortável como as botas um tamanho menor que ela compra e com riscos tão sérios quanto os que encontra no caminho.

Depois da morte precoce da mãe, de câncer de mama, aos 45 anos, Cheryl perde o norte. Começa a usar heroína e transar com todos os homens que aparecem, menos o marido. Decide, como ela mesmo diz, "andar a pé até voltar a ser a filha que a mãe criou".

Cheryl era muito próxima de sua mãe, uma mulher algo hippie que cria os filhos sozinha depois de abandonar o marido alcoólatra e violento. Em uma das cenas do passado, a filha, constrangida de frequentar a faculdade ao mesmo tempo em que a mãe, diz: "Eu sou tão mais sofisticada do que você era na minha idade". A mãe responde: "Esse era o plano. Eu só não imaginava que isso ia me machucar depois".

A caminhada salva, sim, a vida dela (e isso não é um spoiler, já que ela viveu para escrever o livro tantos anos depois). E o filme deve dar uma bela sacudida na carreira de Reese Witherspoon, que ficou com a imagem eternamente grudada com a personagem de "Legalmente Loira". Ela é melhor do que isso.

LIVRE
(WILD)
DIREÇÃO Jean-Marc Vallée
PRODUÇÃO EUA, 2014; 18 anos
MOSTRA terça (21), às 19h30, no Cine Livraria Cultura, R$ 16; quarta (22), às 17h40, no Espaço Itaú - Augusta 1, R$ 16;
AVALIAÇÃO bom


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