"Ôxe-meu" foi como batizaram a parceria entre pernambucanos e paulistas no irregular "Sangue Azul", vencedor do Festival do Rio nas categorias filme e direção.
Trocando em miúdos: não estamos livres nem da ousadia de butique do cinema de Pernambuco, representado pelo diretor Lírio Ferreira, nem da pretensa seriedade do cinema paulista, com a produtora Drama Filmes.
Desse encontro, na verdade, sai pouco. A trama flerta com Bergman e com o melodrama italiano. Um circo chega a Fernando de Noronha, onde Zolah (Daniel de Oliveira), filho do dono da trupe, reencontra familiares que há tempos não via. Daí surgem a saudade, as coisas não ditas e o ressentimento.
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| Daniel de Oliveira e Caroline Abras em cena do filme 'Sangue Azul', de Lírio Ferreira |
A atuação burocrática de Daniel de Oliveira faz com que seu personagem seja um chato de galochas.
Sabe-se lá por quê, o melodrama é evitado, vide a longa cena em que Zolah chora após uma conversa com a mãe (Sandra Corveloni).
O choro é tributário do desbunde pernambucano: agudo, desesperado, filmado como um soluço discreto. Assim, evita-se o drama pela chave do exagero do ator, filtrado por uma câmera discreta, que permanece ao lado da mãe —ela, sim, melodramática.
Essa é a principal cena do filme. Ou uma delas. Pois há outra, envolvendo a coragem para um mergulho, cuja simbologia é capenga –melhor não adiantar aqui o porquê.
Como de hábito no cinema contemporâneo brasileiro, os desfechos das histórias de quase todos os personagens revelam o receio de encarar o drama. Ficamos sempre nas bordas, nas sugestões e nos arroubos de ousadia artificial. Em "Sangue Azul" falta o verdadeiro mergulho, mais uma vez.
SANGUE AZUL
DIREÇÃO Lírio Ferreira
ELENCO Daniel de Oliveira, Caroline Abras, Sandra Corveloni
PRODUÇÃO Brasil, 2014, 16 anos
MOSTRA ter. (21), às 21h40, na Reserva Cultural 1, R$ 16; dom. (26), às 16h15, no Espaço Itaú - Frei Caneca 3, R$ 20
AVALIAÇÃO regular