Folha de S. Paulo


Análise: Tentativas como a de Paula Fernandes são caminho manjado

Paula Fernandes não está sendo nem um pouco original em sua ânsia de ser reconhecida por um público mais, digamos, "qualificado".

Artistas populares parecem ser eternos insatisfeitos e querem sofisticar seu som e seu visual. De Alexandre Pires a Michel Teló.

Ela fala em se aproximar da MPB e do pop. Seu disco de duetos vai mais longe e atira em muitas direções: country (Shania Twain), pop internacional (Michael Bolton), latino (Juanes) e por aí vai.

Alexandre Rezende - 2.out.2014/Folhapress
Paula Fernandes posa com banjo em estúdio de Belo Horizonte
Paula Fernandes posa com banjo em estúdio de Belo Horizonte

A gente já ouviu isso antes. Desde Fábio Jr. gravando com Bonnie Tyler (de "Total Eclipse of the Heart") ou Joanna dividindo microfone com Barry Manilow. Paula pegou pesado no quesito "duetos do além", indo direto para Frank Sinatra. Virou vale-tudo.

Às vezes não é querer apenas abocanhar uma fatia maior de público. Paula já figura há tempos entre as maiores vendedoras de CDs e DVDs no país. O que ela parece buscar é legitimidade, uma afirmação de que é capaz de mais do que as canções sertanejas de versos rasteiros sobre amor não correspondido.

Nada de novo aí também. Em 1987, o RPM completava dois anos como vendedor de milhões de discos. Era popular a ponto de ter o próprio álbum de figurinhas. E não é que a banda então gravou "Feito Nós", um dueto com Milton Nascimento? Para mostrar como um quarteto de rock seria capaz de dialogar com o cantor que era na época a melhor personificação de uma MPB sofisticada.

Mas "Feito Nós" ficou uma chatice, longe da qualidade da produção de Milton e mais longe ainda do pop pegajoso e bem resolvido do RPM.

Outra jogada manjada de artistas populares em busca de prestígio fora de seus nichos: o formato "sinfônico".

Exemplo recente é Chitãozinho & Xororó gravando com a Orquestra Bachiana Filarmônica. O recado deles é que suas modas de viola também podem ganhar um tratamento instrumental "refinado".

Bem, Ray Conniff provou por décadas que isso cai facilmente numa colagem sonora grosseira. Paula Fernandes já tem legiões de fãs, seja pela música caipira que faz ou por seu código genético impecável. Mas, como outros ídolos populares, quer mais.


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