Folha de S. Paulo


Public Enemy defende rap como união de culturas e faz show gratuito em SP

Convidados a serem a grande atração de reabertura do antigo Clube de Regatas Tietê, os membros do grupo de hip-hop americano Public Enemy sabem do tamanho da responsabilidade.

A Prefeitura de São Paulo assumiu o controle do local no fim de 2012, depois que os antigos proprietários do espaço acumularam uma dívida milionária.

Agora funcionando como centro esportivo aberto ao público, o clube foi reinaugurado em setembro. O show marca a liberação de uma área destinada a shows, com capacidade para 40 mil pessoas.

"No início, pensamos em recusar, porque estávamos muito ocupados ultimamente", diz Chuck D, fundador do Public Enemy, à Folha.

"Mas quando soubemos da urgência e da importância desse clube, decidimos largar tudo para viajar a São Paulo."

A atitude combina com o engajamento com o público que o grupo pratica desde suas origens, na década de 1980, quando se tornou um dos grandes nomes do rap.

A importância da banda levou o prefeito Fernando Haddad a chamá-los de "Beatles do hip-hop" ao anunciar o show.

Para Chuck D, porém, eles têm mais a ver com os Rolling Stones, "misturados com um pouco de Bob Marley e Parliament Funkadelic".

"Essa estima que as pessoas têm pela gente é fruto de termos viajado o mundo defendendo as liberdades, denunciando a hipocrisia dos governos e o racismo. Fomos os primeiros do hip-hop a fazer isso."

Artista influente e com amigos na música em diversas partes do mundo, Chuck D não demora a listar alguns de seus músicos brasileiros favoritos: Rappin' Hood, MV Bill e Racionais MC's.

Esses últimos, aliás, foram considerados o "Public Enemy brasileiro" por outro artista e ativista negro, o cineasta Spike Lee, que visitou o país em 2013.

"É algo bonito", diz Chuck D sobre a comparação. "Os governos separam os povos, mas a cultura dá um jeito de uni-los."

A militância não fica apenas no discurso. Desde 1999, o músico comanda o site "RapStation.com", onde reúne canções de hip-hop de todas as partes do mundo.

No portal, há canais de rádio e TV com programação original, entrevistas, artigos sobre com dicas para ganhar a vida como rapper e downloads gratuitos de mp3.

Chuck D, aliás, é uma das vozes da indústria fonográfica que mais defende o compartilhamento de música pela internet.

"A música sempre foi de graça. Ninguém pode ser dono de uma coisa que está solta no ar."

Dizendo-se um "um cidadão do mundo", ele também não se furta a opinar sobre política.

Recentemente, Chuck D se disse a favor da independência da Escócia em relação ao Reino Unido, o que lhe rendeu críticas de britânicos.

Sobre a América Latina, ele diz apreciar a atual aproximação entre os países da região –algo que acredita não ser muito bem visto pelos Estados Unidos e pela Europa.

"Eles impedem que a África se una desde a década de 1960."

Para o show de sábado em São Paulo, Chuck D promete que o Public Enemy subirá ao palco pensando, como sempre, em inspirar os fãs jovens.

"Quando você se levanta por uma causa, nada te derruba."


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