Folha de S. Paulo


Crítica: Livro revê geração que combateu ditadura

A geração que foi esmagada pela ditadura militar deu a volta por cima e chegou ao poder. Dilma, Lula, Fernando Henrique Cardoso, Aloysio Nunes Ferreira são alguns dos sobreviventes.

Com essa ideia, Ayrton Centeno, 65, escreve "Os Vencedores". No livro, 25 entrevistas e pesquisas variadas compõem um mosaico de histórias de quem esteve à frente do combate ao arbítrio.

"É possível afirmar que os vencidos de ontem, por caminhos distintos, coletivos ou individuais, derrotaram a derrota que lhes foi imposta na luta armada ou desarmada contra a ditadura, enquanto os vitoriosos de outrora habitam os subúrbios da memória", afirma o jornalista.

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Dilma Rousseff em interrogatório na Auditoria Militar do Rio de Janeiro (RJ), no dia 17 de novembro de 1970
Dilma Rousseff em interrogatório na Auditoria Militar do Rio de Janeiro (RJ), no dia 17 de novembro de 1970

O primeiro texto é dedicado a Dilma. O autor anota casos da infância e da família da presidente. Trata da influência do pai, que gostava de livros e ópera. Percorre a trajetória por organizações clandestinas, a prisão e a tortura feroz.

Há um capítulo sobre Lula, focando nas batalhas do movimento sindical do final dos anos 1970, que desaguaram na fundação do PT. Frei Betto narra a oposição dos religiosos aos ditadores.

A experiência de Aloysio Nunes Ferreira na Ação Libertadora Nacional conduz a narrativa sobre episódios da organização liderada por Marighella (1911-1969). Alfredo Sirkis conta sobre as ações de que participou na Vanguarda Popular Revolucionária de Lamarca (1937-1971).

O historiador Jacob Gorender discorre sobre o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. José Dirceu e José Genoino recordam dos tempos de militância e avaliam seus martírios atuais. A cineasta Lúcia Murat fala a respeito do Movimento Revolucionário Oito de Outubro; o músico Raul Ellwanger, da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares.

Enveredando pela cultura nos anos 1960/1970, Centeno lembra dos festivais da canção, da Tropicália, da Jovem Guarda, da efervescência no teatro e no cinema, da imprensa alternativa. O escritor trabalhou em várias publicações e é coautor de "Coojornal, um Jornal de Jornalistas sob o Regime Militar".

Os Vencedores
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Depois do golpe, o jornalista recupera os embates de Chico Buarque com a censura, as prisões de Gil e Caetano, a ascensão e fuga de Geraldo Vandré, autor do emblema musical daquele tempo, "Pra Não Dizer que Não Falei das Flores".

Marília Pera traz a memória de uma noite em 1968, quando o Comando de Caça aos Comunistas quebrou tudo no Teatro Ruth Escobar, onde ela atuava na "Roda Viva", peça de Chico Buarque dirigida por José Celso Martinez Corrêa.

Caudaloso (856 páginas), o livro tem texto solto e dinâmica de reportagem.

Para além dos vencedores de hoje, ele aborda exemplos dos que ficaram pelo caminho, mortos e desaparecidos. Embora não traga revelações, Centeno compõe um quadro amplo daquela época, com algumas pinceladas atuais.

OS VENCEDORES
AUTOR Ayrton Centeno
EDITORA Geração Editorial
QUANTO R$ 69,90 (856 págs.)


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