Folha de S. Paulo


Roupas vintage influenciam roteiro da série 'Mad Men'

Até "Mad Men" já deu defeito. A série americana sobre uma agência de publicidade na Nova York dos anos 1960 é conhecida pela reconstrução detalhista das roupas e cenários da época, mas um item icônico dos dias de hoje já conseguiu se infiltrar no set, conta à Folha a figurinista do seriado, Janie Bryant.

"Avisamos ao elenco que não se pode entrar no set com objetos contemporâneos, mas uma vez vi um ator no meio de uma gravação com um smartphone no bolso. Interrompi e não chegou a ir ao ar, ainda bem", diz Bryant, que veio ao Rio na sexta (26) para dar uma aula-mestra no Festival do Rio.

Segundo Bryant, que ganhou um prêmio Emmy por seu trabalho em "Deadwood", em 2005, pessoas que viveram e trabalharam em Nova York na época retratada se impressionam com a fidelidade do figurino.

Divulgação
Da esquerda: Jay R. Ferguson, Elizabeth Moss e Ben Feldman em cena da série 'Mad Men
Da esquerda: Jay R. Ferguson, Elizabeth Moss e Ben Feldman em cena da série 'Mad Men'

Certa vez uma fã da série mandou uma foto de si mesma nos anos 1960, quando tinha 15 anos, usando um vestido igualzinho ao que Sally Draper usa num episódio.

Às vezes o figurino até influencia o roteiro. Num episódio da quarta temporada, o personagem Roger Sterling, dono da agência, pede para Joan, então secretária e sua amante, que use numa festa da empresa aquele vestido vermelho que a "faz parecer um presente".

"Quando Matt [Mathew Weiner, criador da série] viu uma foto do vestido, gostou tanto que falou: Preciso colocar uma fala do Roger sobre ele'", diz Bryant com um largo sorriso de satisfação.

"É sempre difícil fazer as transições dos personagens nas roupas. Eu geralmente sei o que vai acontecer com eles, então posso pensar sobre como vou fazer aquele figurino evoluir", diz.

"É importante lembrar que figurino não é moda, é personagem."

Bryant admite, porém, que o figurino é uma leitura contemporânea dos anos 1960. "É inevitável. Apesar de ser fiel, ainda é o meu olhar", diz. "Eu gosto disso. Não estou fazendo um documentário."

Tampouco pode-se esperar que pessoas reais tivessem o glamour de atrizes como January Jones (Betty) e Jon Hamm (Don). "As pessoas eram diferentes. Os corpos, os rostos. Se você olhar uma foto dos anos 1960, não verá pessoas tão bonitas quanto a gente vê na tela", ri Bryant.

Gravatas finas, saias rodadas e vestidos que marcam a cintura explicam parte do sucesso do série. O figurino já inspirou coleções tanto de marcas de luxo, como Prada, quanto de nomes do varejo, como a Banana Republic, que lançou uma coleção Mad Men assinada por Bryant em 2013.

"Percebi que a série estava se tornando um fenômeno cultural quando alguém me ligou no Halloween dizendo que estava vendo várias Bettys e Dons pela rua", conta Bryant.


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