Folha de S. Paulo


Entrada do Rock in Rio nos EUA abre disputa entre dois modelos de festival

Dois modelos diferentes de festival de rock concorrem pelo público americano. De um lado, o formato que vem desde Woodstock, astros tocando para dezenas de milhares de fãs, venda de cerveja e mais nada. Do outro, um evento, também gigantesco, que tem rock no nome mas carrega um espírito de lazer familiar mais próximo da Disneylândia.

Roberto Medina, 67, aposta neste segundo modelo desde que montou uma Cidade do Rock definitiva em 2011, na quarta edição do Rock in Rio. A produção de Medina oferece shows de peso e também lojas, ruas temáticas de lazer, praças de alimentação além do fast food e, se chover, piso sintético para evitar o lamaçal.

São atrativos diferentes dos encontrados nos maiores festivais americanos. O californiano Coachella e o texano Austin City Limits têm bons shows, fast food em barracas e, se
chover, diversão na lama.

VIVA LAS VEGAS

Criador do Rock in Rio em 1985, Medina leva seu modelo ao showbizz americano.

Editoria de Arte/Folhapress
O mapa da batalha do festival brasileiro por edições em outros países

Nesta sexta (26), na Times Square, em Nova York, vários telões eletrônicos vão divulgar por 15 minutos o Rock in Rio Las Vegas. Um show relâmpago está marcado.

Medina assinou contrato para três edições em Las Vegas: 2015, 2017 e 2019. No ano que vem serão dois fins de semana (dias 8, 9, 15 e 16 de maio).

Em Las Vegas, o local será 30% maior do que no Rio, mas vai receber as mesmas 85 mil pessoas que devem lotar cada dia do próximo evento no Brasil, em setembro de 2015, que marca 30 anos de Rock in Rio.

A investida de Medina tem outras diferenças com relação aos festivais americanos, que começaram pequenos.

O Rock in Rio já nasceu grande: dez dias de shows. São cerca de 4,6 milhões de espectadores desde a primeira noite de 1985, que teve apresentações seguidas de Iron Maiden e Queen, até então impensáveis.

Os nomes que fecham a noite, os "headliners", seguiram fortes, como Guns N' Roses em 1991, Oasis em 2001, Coldplay em 2011 e Beyoncé em 2013.

Enquanto organizadores de eventos americanos ainda seguem uma linha estética pessoal, Medina é mais eclético.

"Eu não contrato por gosto pessoal", diz Medina à Folha. "Eu defino quem vem, mas trabalho com pesquisas."

Ele afirma que se vê como um publicitário que produz shows e não um especialista. "Meu mundo de música é outro", afirma, lembrando que na edição de 2011 queria mesmo era ver Elton John e Stevie Wonder. Depois, em 2013, sua atenção recaiu sobre outro veterano, Bruce Springsteen.

Atrelada a pesquisas na busca de artistas com público fiel, a escalação do Rock in Rio é criticada pela repetição de nomes em mais de uma edição, caso de Metallica e Iron Maiden. "Na hora de escolher um headliner possante para 85 mil pessoas, poucos nomes seguram a venda", diz ele.

PATROCÍNIOS

Enquanto eventos como o Austin City Limits faturam apenas com ingressos, Medina trabalha com patrocínios. "Quando nasceu o Rock in Rio, a conta não fechava de jeito nenhum. Custava três vezes mais do que um evento nos EUA, mas o nosso ingresso custava cinco vezes menos. Não entendia como grandes marcas não patrocinavam os eventos americanos", conta.

Depois de perder dinheiro no primeiro festival e não ficar satisfeito em alojar a segunda edição no Maracanã, o empresário acertou a mão insistindo na construção de sua Cidade do Rock, com conforto e opções de lazer e alimentação. Foi provisória, em 2001, e definitiva, desde 2011.,

O salto para o exterior veio com Portugal e Espanha. As seis edições em Lisboa e as três em Madri reuniram cerca de 2,7 milhões de pessoas.

O Rock in Rio tem hoje escritórios em Nova York, Las Vegas e Los Angeles. Não é mania de grandeza. Medina reclama de um aspecto "perverso" dos negócios nos Estados Unidos. "O difícil é visitar patrocinadores. Diferente daqui, do eixo São Paulo-Rio, ou da Espanha ou de Portugal, com tudo concentrado, nos EUA cada patrocinador tem sede de um lado do país."

Para Las Vegas, a empresa se associou à gigante de entretenimento MGM, que entra com um terço dos US$ 75 milhões (R$ 170 milhões) previstos para montar o evento, e ao Cirque du Soleil. No início do ano, 50% do Rock in Rio foi vendido para a americana SFX Entertainment, mas Medina controla a operação.

Em 2011, outra empresa americana quis comprar todo o Rock in Rio. Segundo Medina, "uma quantia fantástica para quem gosta de dinheiro".

Ele conta que levou o interessado à Cidade do Rock e mostrou um canteiro de flores. "Ontem passei aqui e achei uma merda, então mandei trocar. Você vai fazer isso se comprar o Rock in Rio? Não. É por isso que não te vendo."


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