Folha de S. Paulo


Selfie é agressão permanente, diz Sebastião Salgado

Quando abriu sua exposição "Genesis", em Brasília, no início deste mês, Sebastião Salgado se viu obrigado a sair no meio do vernissage. Aos 70 anos, um dos ícones da fotografia brasileira não conseguiu lidar com a profusão de selfies que tomou conta do evento.

"Olha, é de uma agressividade", disse à Folha, rindo. "Há seis meses, eu abri uma exposição e as pessoas vinham conversar comigo, pediam um autógrafo, trocavam ideias. Agora acabou. Cada pessoa te agarra e quer tirar selfie", desabafou.

"Bota um telefone ali, é uma agressão permanente em cima de você."

Salgado, que acabou se rendendo à fotografia digital no projeto por conta da dificuldade de passar com filmes nos aparelhos de raio-X dos aeroportos, diz não ter nada contra o fenômeno do Instagram ou a alteração de imagens com filtros de smartphone.

"Eu não sei ligar um computador, não olho nada disso. Só estou recebendo o efeito negativo", diz.

Marina Klink, mulher do explorador Amyr Klink, que publicou uma selfie com Salgado em março deste ano em sua conta no Instagram, diz acreditar que esse tipo de prática "tem limites".

"Somos amigos de vários anos, então é diferente. Mas com o Amyr também vejo isso: não é só mais o autógrafo, todo mundo tem que tirar a selfie com o celular e depois o amigo tira a foto com a câmera", diz.

Nesta sexta-feira (19), a exposição "Genesis" chega aos EUA, no Centro Internacional de Fotografia (ICP), em Nova York. Na cidade, ela terá um papel especial nas discussões da Cúpula do Clima da ONU, no próximo dia 23, quando será realizado um evento especial no ICP para autoridades.

Salgado espera que as 245 fotografias da mostra, retratos de pontos intocados do planeta, contribuam para os debates."Deve-se levar em conta a necessidade de preservação ecológica. Que se inclua um respeito ao que garantiu a sobrevivência de nossa espécie."


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