Folha de S. Paulo


Familiares criticam sessão de filmes de terror no cemitério

Anunciada nesta semana, a Cinetério —maratona de filmes de terror no cemitério da Consolação, em São Paulo— gerou críticas entre parentes de pessoas enterradas ali. A mostra está agendada para a noite deste sábado (13).

"Acho um horror. O cemitério não é circo para fazer festividade", diz o engenheiro Marcos Ambrogi, 63, que tem seis parentes enterrados na Consolação. "Para os organizadores, pode não ter significado nenhum. Para nós, é imenso."

Ambrogi diz que pretende entregar folhetos no dia da mostra em protesto contra o evento e denunciado a "situação de miséria" em que diz estar o cemitério. O engenheiro mobiliza outras famílias para criar uma associação de amigos de cemitério e cobrar melhorias na segurança do local.

Em agosto, a Folha noticiou que foram registrados furtos de 459 itens desde o ano passado na necrópole da região central, que reúne os restos mortais de escritores como Monteiro Lobato (1882-1948) e Mário de Andrade (1893-1945).

"Os túmulos continuam sendo violados por ladrões e drogados e a prefeitura não faz nada. Você faria um festival após um bombardeio na faixa de Gaza?", indaga Ambrogi.

Solange Breviglieri, 61, que tem os pais enterrados no cemitério, se diz contrária à exibição de filmes de terror ali.

"Sou a favor de atividades culturais no cemitério, mas tinham que levar para o lado mais artístico. Daqui a pouco vão mostrar até pornochanchada", diz Solange, que trabalha com comércio exterior.

A mostra, que existe há oito anos, já exibiu filmes no cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte. Ali, não houve reclamações, segundo Fúlvio Giannella Junior, chefe de gabinete do serviço funerário municipal de São Paulo.

"Os cemitérios contam a história da cidade. Queremos transformá-los cada vez mais em pontos de cultura", diz Giannella. "Vazios, eles atraem marginais. Um evento como esse chama a atenção das pessoas para ocupá-los e melhora a segurança deles."

Segundo Giannella, durante a maratona o acesso aos túmulos será fechado com grades e a segurança será reforçada. Os filmes serão projetados num dos corredores que dão acesso à capela, e o público ficará sentado em cadeiras.

"Já fizemos isso na Virada Cultural deste ano, com o Zé do Caixão contando histórias de terror, e foi ótimo. Não houve nenhum incidente", afirma.

Neste ano, o Cinetério homenageia o terror brasileiro com a exibição de "Ninfas Diabólicas" (1978), de John Doo, "Excitação" (1977), de Jean Garrett, e "As Sete Vampiras" (1986), de Ivan Cardoso.

"A ideia não é ofender ninguém. Não vai ser uma balada nos túmulos", diz Karen Cunha, diretora de eventos da Secretaria Municipal de Cultura. "Em Buenos Aires, ir ao cemitério faz parte do circuito cultural. Aqui em São Paulo ainda falta essa percepção."


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