Folha de S. Paulo


Britânica Tabitha Suzuma romanceia sua experiência com depressão

A escritora britânica Tabitha Suzuma foi diagnosticada com severa depressão refratária com tendências bipolares. Isso depois de passar anos calando o estado de espírito em que estava mergulhada desde sempre e outros tantos procurando ajuda médica, fazendo terapias, medicada com antidepressivos.

É dessa trajetória que emerge sua obra literária de seis livros, cujo penúltimo, "Proibido", é lançado agora pela Editora Valentina. Suzuma revela que descobriu que o melhor a fazer seria escrever sobre sua doença mental, como ela a chama.

Passou a se obrigar a dissecar em detalhes como estava se sentindo, e a tentar encaixar aquela dor nos personagens do livro em que estivesse trabalhando.

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A escritora britânica Tabitha Suzuma, de 'Proibido
A escritora britânica Tabitha Suzuma, de 'Proibido'

Em "Proibido" (2010), Lochan e Maya, um casal de irmãos adolescentes, por força de circunstâncias desestabilizadoras —uma mãe alcoólatra e um pai que partiu—, torna-se cúmplice no cuidado com a casa e com os irmãos menores.

Da aliança que os une, além de um amor puro e das limitações de Lochan para se relacionar fora da família, surge o incesto, consentido e quase planejado.

Às vésperas de completar 40 anos, Suzuma utiliza a sinceridade como arma principal –tanto para atingir os leitores quanto para se curar.

Leia trechos de sua entrevista por e-mail.

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Folha - O que os personagens de "Proibido" têm em comum com você?
Tabitha Suzuma - O instinto maternal de Maya é definitivamente algo que compartilho. Eu cresci como a mais velha de cinco filhos e passava bastante tempo cuidando dos caçulas. Minha irmã menor, que nasceu quando eu tinha dez anos, me chamava de "mamãe". Quando eu tinha 14, meu irmãozinho nasceu e eu caí fora da escola enquanto minha mãe estava com ele na maternidade. Nunca voltei à escola, continuei estudando em casa. E durante seus 12 primeiros anos de vida era eu quem cuidava mais dele.

Quando está escrevendo um livro, foca leitores específicos?
Em "Proibido", imaginei que meus leitores tivessem a partir de 16 anos. E também senti que os adultos pudessem gostar do livro, já que nunca simplifiquei a história ou o estilo para adolescentes. Pensei que mais meninas do que meninos iriam gostar, mas fiquei agradavelmente surpresa quando muitos garotos me escreveram para dizer que haviam gostado.

Abordar um incesto embasado num amor muito puro é uma maneira de questionar a moral e as leis vigentes?
Pode ser, mas não era minha intenção. Queria apenas escrever sobre uma história de amor definitivamente proibida! Uma relação inaceitável não somente pelos personagens da família, pelos amigos. Queria escrever sobre um amor condenável universalmente!

E também quis dar ao leitor a oportunidade de pensar quão instantaneamente condenamos as pessoas que quebram tabus sem saber das circunstâncias que as levam a fazer isso. Não estou pedindo que decidam se incesto deve ser legal ou ilegal, certo ou errado. Apenas quero encorajar as pessoas a manterem suas mentes abertas.

Atualmente, como é seu dia a dia?
Minha vida é muito comum. Tento escrever todos os dias e também trabalho parte do dia lecionando para crianças. A depressão torna minha vida bastante difícil em algumas fases. Às vezes não consigo manter uma vida muito convencional. Nem sou uma pessoa convencional!

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Você diz no seu site que "a depressão é um desejo muito forte de não viver". Poderia nos falar mais dessa doença?
Depressão é um tipo de doença mental. Todavia, sofrer de depressão ou de qualquer outra doença mental não significa que você é louco. Significa apenas que há um desequilíbrio químico em seu cérebro.

Depressão pode acometer qualquer pessoa. Robin Williams [ator que se suicidou no mês passado] é um exemplo. Ele era muito inteligente, extremamente talentoso e rico. Nada impediu que sofresse de uma terrível depressão.

A verdade é que uma a cada quarto pessoas sofre de alguma doença mental, 20% das mortes de jovens são por suicídio. É a forma de morte mais comum para homens com menos de 35 anos.

Depressão é uma doença muito perigosa, mas pode ser tratada e curada. Só que você tem que expressá-la, é a única maneira de conseguir ajuda.

PROIBIDO
AUTORA Tabitha Suzuma
EDITORA Valentina
QUANTO R$ 39,90 (304 págs.)


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