Folha de S. Paulo


Editoras veem paralisia de governos

Editoras brasileiras reclamam que as três instâncias de governo (federal, estadual e municipal) estão comprando menos livros pelos programas de difusão da leitura.

A queixa tornou-se pública nesta quinta (4) em texto que o editor da Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, postou em seu blog. "É preciso cobrar continuidade aos governantes", escreveu.

Procurado pela Folha, Schwarcz afirma não estar "criticando governantes especificamente". Mas que "o Brasil, desde Fernando Henrique, nos governos Lula e mesmo neste período da Dilma, em várias esferas foi o país que mais investiu na compra de livros."

"Agora eu não posso mais falar isso, não tenho mais segurança de que o Brasil continuará nesse trilho", acrescenta. "Por vários motivos, intempéries políticas e econômicas, trocas ministeriais."

O problema não está nos livros didáticos, mas nos paradidáticos, sobretudo literatura brasileira. Já no ano passado, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), houve queda. Em 2012 o governo federal –comprador fundamental para o mercado editorial– havia adquirido 11 milhões de títulos. Em 2013, 7,5 milhões.

Outras editoras ouvidas pela Folha confirmam que o problema se agravou neste ano. "Tem havido queda brutal nas compras, acredito que de 80%, em todas as instâncias de governo", afirma Bernardo Ajzemberg, diretor-executivo da Cosac Naify.

"O Estado tem o dever de incentivar esses programas", acrescenta. "Não é apenas uma política para crescer o faturamento das editoras. É fundamental para o desenvolvimento da sociedade."

Jorge Sallum, editor da Hedra, diz não ter notado queda. "O problema tem sido a troca de ministro, a falta de responsabilidade. Neste ano está tudo atrasado. Esperamos há oito meses o pagamento pelos livros vendidos."

"Uma das coisas que ouvi foi que talvez o governo esteja pensando em investir a partir de idades mais baixas, porque o jovem já está perdido", diz Schwarcz. "Isso não é verdade. Basta ir à Bienal do Livro e ver."

Em seu post, intitulado "A geração perdida?", o editor escreveu sobre a "beatlemania" que cercou autores na Bienal. Afirmou que o fenômeno não se deve só à "geração Harry Potter", mas às políticas das últimas décadas.

Sua crítica avança sobre o governo paulista e as prefeituras de São Paulo e Rio. No primeiro caso, diz ter ouvido do governo que houve atraso na distribuição dos livros comprados em 2013, "por isso não compraram neste ano". Mas já "estariam iniciando um processo de avaliação para o ano que vem".

Sobre o prefeito paulistano, Fernando Haddad, diz Schwarcz: "Como é que um ministro da Educação que teve uma gestão considerada muito boa, na hora em que vira prefeito a compra para bibliotecas para? Zero, zero".

Sônia Jardim, vice-presidente do grupo Record e presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), diz que "tanto Rio quanto São Paulo, que tinham programas maravilhosos, estão comprando menos", o que "é terrível, podemos perder uma geração inteira de leitores".

Mas ela mantém o otimismo: "Precisamos ver se é algo pontual ou se será a norma daqui para a frente. Se continuar assim, ficará muito difícil para todos".


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