Folha de S. Paulo


Qual foi a grande banda do britpop, Blur ou Oasis?

Qual foi a grande banda do britpop: Blur ou Oasis?

O crítico André Barcinski e o editor-assistente da "Ilustrada" Daigo Oliva defendem suas posições.

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A capa da revista semanal 'NME' com a disputa entre Blur e Oasis, em 1995
A capa da revista semanal 'NME' com a disputa entre Blur e Oasis, em 1995

ANDRÉ BARCINSKI: EU SOU BLUR

Se eu tivesse de escolher na briguinha Blur vs. Oasis, ficaria com o primeiro, que sempre me pareceu mais inventivo e eclético do que o pastiche de Beatles dos Gallagher.

Acho "Parklife", com influências de disco, new wave, pop e Kinks, muito melhor e mais ousado do que "Definitely Maybe".

O Damon Albarn pós-Blur criou o Gorillaz, trabalhou com Brian Eno e lançou um disco solo surpreendente, o que fizeram os Gallagher?

Beady Eye? High Flying Birds? Faz-me rir.

DAIGO OLIVA: EU SOU OASIS

Briga entre irmãos, cigarros e álcool, uma pororoca de frases de efeito e canções com muita, mas muita guitarra.

Para um adolescente nos anos 1990, não havia pacote que pudesse soar melhor. A música era incrível, mas a atitude contava muito mais.

Oasis tinha a genialidade de um compositor talentoso e provocador, como a época pedia. E por mais que existisse uma legião contra, Noel Gallagher estava sempre certo.

Ele desafiou a lógica ao dizer que Oasis era melhor que Beatles, brigou com a lógica ao fazer com que a banda emplacasse nos EUA e confirmou a lógica de irmão mais velho ao provar que era ele quem escrevia tudo, decidia tudo.

Porém, a postura arrogante de Liam também contribuiu para o carisma às avessas da banda. As mãos para trás, o gogó em riste e o pandeiro desnecessário ao cantar marcou a estética do britpop.

No mar de alegria de ácidos e ecstasy pós-Happy Mondays ou brigando contra o hino de balada "Boys and Girls", do Blur, os dois primeiros discos da banda seguiram a cartilha básica do rock de maneira magistral: refrões grudentos, tanto para baladas —"Wonderwall" virou hit universal, que até meu pai entoa, "Whatever" foi música de comercial da Coca-Cola e "Live Forever" marcou namoros apaixonados por aí—, como para sons mais soturnos.

"Slide Away", "Shakermaker" e "Columbia", faixas de "Definitely Maybe" (1994), eram o documento de que eles sabiam fazer rock de qualquer maneira, ainda mais no modelo mais tradicional.

O ser humano que não se empolga ao ouvir os primeiros acordes de "Roll With It" ou não se arrepia com a bateria e a base de guitarra de "Supersonic" tem algum trauma com os anos 1990. É a única forma de entender.

Até o terceiro álbum, "Be Here Now", o grupo foi perfeito. Mas, depois de tantas desavenças, mudanças na formação —Noel deixou que músicos de verdade entrassem no grupo e roubassem um pouco de seu protagonismo, um erro— e tentativas de experimentações musicais, o Oasis entrou em baixa.

Não que tenham ficado ruins. Ficaram mais calmos, envelheceram, e com a testosterona da juventude, foi embora também o beabá dos primeiros anos. Ao tentar inventar músicas um pouco mais complexas, piorou. Sou Oasis, mas só quando era modinha.


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