Folha de S. Paulo


Ken Follett defende seus livrões na Bienal

O autor britânico Ken Follett escreve para multidões e produz aos borbotões. Em 35 anos de carreira, vendeu mais de 150 milhões de livros. Boa parte deles é de histórias de cerca de mil páginas, como "Eternidade por um Fio", que autografa neste sábado (30), após bate-papo às 10h30 sobre sua obra na Bienal do Livro em São Paulo.

"As pessoas gostam de livros grandes", diz Follett, 65, à Folha no hotel em que se hospeda na cidade.

"Se um livro é bom, as pessoas querem ler por bastante tempo. Claro que, se for chato, é terrível. Mas, se é empolgante, você não quer que ele termine. Meus livros grossos são mais populares que meus livros mais curtos."

"Pilares da Terra", romance sobre a construção na Idade Média lançado em 1989, foi o primeiro dessa volumosa tendência, de tomos com mais de mil páginas. "Um dos leitores me disse: Gostei de seu livro, mas queria que ele fosse maior'", conta Follett.

Ernesto Rodrigues/Folhapress
Ken Follett em hotel em São Paulo, onde participa da Bienal do Livro
Ken Follett em hotel em São Paulo, onde participa da Bienal do Livro

Por isso, o tamanho da história foi uma das coisas em que pensou quando começou a planejar a trilogia "O Século", que agora chega ao fim.

"Eu queria produzir outro livro grande, mas não pretendia continuar no terreno medieval. Fiquei pensando sobre o que deveria escrever, qual seria um período empolgante da história, e cheguei ao século 20", conta.

"É muito dramático. Tivemos essas três grandes guerras: a Primeira Guerra, a Segunda Guerra e a Guerra Fria. Que não chegou a virar quente, mas, se tivesse virado, nós todos estaríamos mortos, o mundo destruído."

É no período da Guerra Fria, nos anos 1960, que começa "Eternidade por um Fio", que exigiu de Follett investimento em pesquisas, com viagens para o outro lado do Atlântico —ele vive em Hertfordshire (Inglaterra) com a mulher, Barbara, presidente da empresa que gere a carreira do autor.

Uma das viagens foi a Cuba. "Em geral, as pessoas escrevem sobre a Crise dos Mísseis do ponto de vista dos EUA. Mas eu queria que um dos meus personagens estivesse em Cuba, achei que poderia ser mais assustador."

"Eu precisava ir até lá, pelo menos por alguns dias, para sentir como é o país", diz.

Saiu com uma impressão positiva: "As pessoas são muito bacanas, foi uma viagem ótima, mas é um país muito pobre. Apesar disso, as pessoas parecem muito felizes. Eles se divertem. Talvez seja por causa do clima...".

Eternidade por um Fio
Ken Follett
Ken Follett
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Nos EUA, percorreu a rota dos Viajantes da Liberdade, militantes que combatiam o racismo no país.

"Estive no Sul profundo, foi comovente. Aquelas pessoas que, nos anos 1960, foram espancadas, presas ou mortas são heróis hoje. Há estátuas em homenagem a elas. Elas enfrentaram aquela batalha e venceram. E hoje os Estados Unidos têm um presidente afro-americano."

O resultado das pesquisas é um livro envolvente, com ritmo rápido e ação, que se estende por décadas e passa também pela Guerra do Vietnã, a explosão do rock'n'roll e a queda do Muro de Berlim.

"Eu sempre quis escrever histórias que encantassem milhões de pessoas", diz.

"Meus amigos que produzem alta literatura não pensam desse jeito, não se perguntam sobre os leitores. Dizem que escrevem para eles mesmos. Eu não, sempre penso nos leitores. Escrevo de uma maneira tradicional, tento escrever o que as pessoas vão gostar."

A julgar pelas vendas, tem conseguido.

KEN FOLLETT NA BIENAL
QUANDO sáb. (30), às 10h30
ONDE Arena Cultural, Anhembi, av. Olavo Fontoura, 1.209

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RAIO-X
KEN FOLLETT

VIDA
Nasceu em 5 de junho de 1949 no Reino Unido. É casado, tem cinco filhos e seis netos.

OBRA
Seu primeiro sucesso foi "O Buraco da Agulha" (1978). Seus 30 livros já venderam mais de 150 milhões de exemplares em mais de 80 países. No Brasil, suas vendas são estimadas em 700 mil exemplares.


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