Folha de S. Paulo


Fonte Helvetica desperta ira de designers

Pergunte a qualquer pessoa iniciada em design gráfico qual é a fonte mais odiada de todos os tempos e terá resposta certa: Comic Sans.

Mas há quem direcione sua irritação para uma fonte muito mais popular —aliás, a mais utilizada em todo o mundo—, a Helvetica.

De reclamadores profissionais na rede a designers de renome, todos dizem que a rejeição à fonte está ligada à sua popularidade. Ela é tão usada que passou a ficar chata.

O site "Helvetica Sucks" (na tradução livre: Helvetica Não Presta) parece resumir o mote de quem passou a detestá-la: "a pior fonte já criada: amada por hipsters e por designers preguiçosos."

"Acho que muitos designers usam o caminho fácil e pensam que nunca podem errar usando a Helvetica", diz o designer suíço Niklaus Troxler, que concorda que há uso excessivo da fonte.

Ele esteve em São Paulo para o Congresso da AGI (Alliance Graphique Internacional), que reúne a elite do design gráfico mundial, organizado no país neste mês em parceria com o Itaú Cultural.

A brasileira Tereza Bettinardi, 31, diz não odiar a fonte, mas, para ela, a opção pode dar um ar de "solução preguiçosa". "Muita gente se vicia nessa ideia de que usar um cânone da tipografia pode validar qualquer decisão tomada."

"A maioria das pessoas usa Helvetica porque ela é onipresente. É como ir ao McDonald's ao invés de pensar sobre comida", declara o designer alemão Erik Spiekermann no filme "Helvetica" (2007).

Os profissionais ressaltam, porém, que é impossível comparará-la a Comic Sans.

Criada em 1957, a Helvetica abriga uma família de fontes de uso variado e aparece em marcas como a companhia aérea American Airlines e a empresa de tecnologia Microsoft.

Já a Comic Sans surgiu muitos anos depois, em 1994, para uso específico em computadores. A ideia era imitar as falas de histórias em quadrinhos.

Seus críticos dizem que ela é uma fonte informal, quase infantil, usada de forma equivocada em, por exemplo, avisos de conteúdo sério em empresas e condomínios.

"A diferença na qualidade de desenho é evidente. A Comic Sans parece ter sido desenhada por um destro usando a mão esquerda. Mas as coisas ruins sempre têm muito público e se propagam como uma praga", diz o designer brasileiro Guto Lacaz.

Para o norueguês Lars Müller, que publicou em 2004 o livro "Helvetica - Homenagem a uma Fonte", a tipografia passa por momentos cíclicos desde sua criação. "Esse movimento de ódio é a melhor garantia de que uma nova explosão de Helvetica virá", diz.

Os designers não quiseram apostar em qual será a nova queridinha das fontes.


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