Folha de S. Paulo


Documentário sobre genocídio na Indonésia é aclamado em Veneza

O genocídio cometido na Indonésia nos anos 1960 foi retratado nesta quinta-feira (28) no Festival de Veneza, que acontece na cidade italiana até o dia 6 de setembro. O diretor Joshua Oppenheimer apresentou no evento italiano seu documentário "The Look of Silence", colocando frente a frente assassinos e sobreviventes do conflito no país.

Sem mostrar sangue ou qualquer ato de violência, o filme do diretor americano, radicado na Dinamarca, chama a atenção do público por sua atualidade.

Em 98 minutos, traz depoimentos dos parentes das vítimas do genocídio e dos torturadores, entrevistados por um oculista de 44 anos que teve o irmão assassinado por esquadrões da morte.

"Nem eu nem minha família vamos nos curar com este filme, porque não existe reparação para o que aconteceu, mas acredito que vai ajudar meus filhos e as novas gerações", disse Adi Rukun, protagonista do documentário, que entrevista os assassinos do irmão.

Divulgação
Cena do documentário 'The Look of Silence', apresentado no Festival de Veneza
Cena do documentário 'The Look of Silence', apresentado no Festival de Veneza

Oppenheimer é o diretor do premiado "O Ato de Matar" (2012), que mostra depoimentos dos autores dos massacres cometidos por integrantes dos esquadrões da morte na Indonésia. Hoje com idades avançadas, eles falam no longa sobre os crimes e reencenam as aberrações que cometeram após a chegada ao poder do general Suharto, em 1965.

"Meu filme é uma poesia sobre o silêncio gerado pelo terror, uma poesia sobre a necessidade de quebrar este silêncio, mas também sobre o trauma provocado por romper o silêncio", afirmou Oppenheimer, que agora retrata as vítimas do conflito.

O diretor completa sua investigação reunindo os carrascos e os sobreviventes de uma família que descobriu, graças a seu documentário anterior, os responsáveis pela morte de um membro: vizinhos que moravam a poucos metros de distância.

"The Look of Silence", que disputa o Leão de Ouro, é apontado como um dos favoritos em Veneza. Produzido pelos consagrados cineastas Werner Herzog e Errol Morris, contou com a colaboração de uma lista de pessoas anônimas, que trabalharam com o diretor na Indonésia.

"Recebo ameaças o tempo todo. Não sou um cara corajoso, tenho medo", confessou o cineasta de 39 anos. "Tomo precauções. A equipe técnica é dinamarquesa e sempre filmei com seguranças."


Endereço da página: