Folha de S. Paulo


Xico Sá, Antonio Prata e Gregorio Duvivier debatem crônica na Bienal

O público da Bienal do Livro lotou na tarde desta terça-feira (26) o auditório do Salão de Ideias para ver o encontro dos cronistas Xico Sá, Antonio Prata e Gregorio Duvivier, todos colunistas da Folha.

A mediação da divertida conversa ficou por conta do jornalista Ubiratan Brasil, editor do "Caderno 2" do jornal "Estado de S. Paulo".

O bate-papo teve como temas a arte de escrever crônicas e a relação com os leitores.

"Isso de dizer que a crônica morreu, que é um subgênero, é balela. Mas, por outro lado, isso nos deixa mais livres para escrever, não temos aquela solenidade. Não somos grandes romancistas, não vamos fazer o grande romance da nação", disse Xico Sá.

Gregorio Duvivier, que também é roteirista e ator do grupo de humor Porta dos Fundos, defendeu que o gênero passa por uma ótima fase, com grandes nomes tanto no impresso quanto na internet.

"A crônica não vai morrer tão cedo. Como o Sarney, ela vai sobreviver. Com a diferença de que a crônica faz sentido e faz as pessoas felizes."

Antonio Prata destacou a grande liberdade oferecida pela crônica —tudo pode render um texto, mesmo as coisas mais insignificantes, desde que o autor consiga extrair alguma graça do assunto.

"A crônica só tem uma regra, não pode ser chata. O cronista é um assalariado que depende disso para viver", comentou. "O romance sim pode ser chato. Inclusive, pode ser até premiado se for chatíssimo. Pode até entrar para a Academia Brasileira de Letras."

Em outro momento, entrou em pauta aquela situação que gera pânico em todo cronista ou qualquer outro escritor que tenha um prazo para terminar um texto: o momento do branco, da total falta de inspiração.

Gregorio diz que costuma guardar umas cartas na manga, textos prontos com antecedência aos quais recorre quando não consegue produzir nada novo.

Uma dessas crônicas ("Autor Não Encontrado" ) de gaveta foi publicada em 16 de junho. Era narrada pelo ponto de vista da então editora da "Ilustrada", Heloísa Helvécia, que reclamava que Gregorio era um mau profissional que sempre atrasava a entrega dos textos.

"Muitas pessoas ficaram me xingando depois, me chamando de maconheiro."

Prata relembrou um de seus textos na Folha que mais causou repercussão entre leitores, "Guinada à Direita".

"Eu fazia um narrador racista, homofóbico, quase um matador. O problema não foi que gerou críticas, mas que recebeu uma série de elogios. Eu queria que as pessoas percebessem como são ridículas aquelas ideias. Mas as pessoas têm a ideia de que tudo que sai no jornal é sério."

"A ironia cobra um esforço do leitor", argumentou Gregorio. "Estamos mal treinados para isso."

"Temos uma crise grave de interpretação de texto", acrescentou Xico.

No fim da conversa, os três comentaram as dificuldades de se escrever uma crônica, de produzir um texto que pareça "fácil", leve, divertido. Para eles, não há outra saída —é sentar, escrever e reescrever, reescrever e reescrever.

"Mas não é fácil mesmo. Estou numa crise tremenda", confessou, aos risos, Xico. "Desde o 7 x 1, não acertei mais nenhuma crônica sobre futebol."

Foi a deixa perfeita para Prata encerrar a conversa.

"Não fala assim, Xico, se não podem chamar o Dunga para escrever no seu lugar."


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