Folha de S. Paulo


Crítica: 'O Pintassilgo' é prolixo e exagerado, mas nunca monótono

"O Pintassilgo", da americana Donna Tartt, é um fenômeno editorial, caso raro de livro que agrada tanto ao público quanto à crítica. Esse tijolo –728 páginas na versão brasileira– vendeu 1,5 milhão de cópias nos EUA e ganhou o prêmio Pulitzer de ficção.

Mas nem todas as críticas foram elogiosas. Algumas publicações importantes, como "The New Yorker" e "The Paris Review", o desancaram. James Wood, crítico da "New Yorker", disse à revista "Vanity Fair": "O sucesso do livro é prova da infantilização de nossa cultura literária, um mundo em que adultos andam por aí lendo Harry Potter'".

"O Pintassilgo" sai agora no Brasil, quase um ano após sair na Europa e nos EUA. É difícil, portanto, falar sobre ele sem levar em conta todo o "hype" e as discussões sobre seus méritos —ou ausência deles.

Divulgação
A escritora americana Donna Tartt, que volta ao romance após dez anos de hiato
A escritora americana Donna Tartt, que volta ao romance após dez anos de hiato

Donna Tartt fez um livro grande e ambicioso, com muitos personagens e uma história intrincada. Tudo começa quando Theo Decker, um garoto de 13 anos, vai com a mãe, Audrey, a um museu em Nova York. Há uma explosão, um atentado terrorista, e Audrey morre. Theo escapa dos escombros carregando um pequeno quadro, "O Pintassilgo", pintado pelo holandês Carel Fabritius em 1654.

A tragédia muda a vida de Theo para sempre. Sem parentes próximos –o pai, alcoólatra e viciado em jogo, abandonara a família —ele vai morar no apartamento luxuoso da família de um amigo, onde se sente triste e deslocado.

O livro, com seu retrato cinza de uma juventude destruída, foi comparado a Dickens. Mas em Theo Decker há ecos do niilismo de Holden Caulfield de "O Apanhador no Campo de Centeio", de Salinger, e das aventuras de Tom Sawyer e Huckleberry Finn, de Mark Twain, especialmente quando Theo acaba em Las Vegas, morando com o pai trambiqueiro, e fica amigo de Boris, com quem faz uma parceria de pequenos crimes.

O livro é um tanto prolixo, e a história dá tantas voltas que se torna quase um conto de fadas: Theo reencontra uma menina que vira no dia do atentado, envolve-se com falsificadores de arte, mete-se com bandidos e acaba em um tiroteio sangrento. Apesar de exageros, o livro nunca se torna monótono, e a curiosidade sobre o destino de Theo supera eventuais excessos.

Dá para entender por que "O Pintassilgo" fez tanto sucesso. É uma boa história, contada de maneira lúdica e com toques de humor. Se merece o Pulitzer, é outro assunto. Mas esse problema é do Pulitzer, não do livro.

O PINTASSILGO
AUTOR Donna Tartt
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Sara Grünhagen
QUANTO R$ 49,50 (728 págs.)
AVALIAÇÃO bom


Endereço da página: