Folha de S. Paulo


Bienal do Livro começa hoje com forte público jovem e adoração a ídolos pop

Multidão, gritos, fãs ensandecidos, ídolos pop. Parece a descrição de um festival de rock, mas esse é o cardápio cada vez mais frequente da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, cuja 23ª edição começa nesta sexta-feira (22) e vai até 31 de agosto.

Quem visitou as últimas bienais sabe o quanto o evento é heterogêneo. Neste ano, o lema da feira é "Tudo junto e misturado". Traz mais de 400 atrações, entre debates, peças, filmes e shows.

Mas, no meio de toda essa barafunda, dizem editores e autores ouvidos pela Folha, uma marca se destaca: a Bienal é cada vez mais uma festa para o público jovem.

Crianças sempre tiveram presença forte na feira —dezenas de ônibus levam alunos ao Anhembi nas manhãs do evento—, mas nas últimas edições o grupo que tem de 12 a 20 anos tornou-se o mais assíduo frequentador da Bienal.

"Hoje, sem dúvida afirmo que é um evento para o jovem leitor", diz Carlos Andreazza, editor-executivo da Record. "Acho isso extraordinário, capaz de formar novos leitores, novo público", acrescenta.

Editoria de Arte/Folhapress

Na última Bienal, 65% dos livros vendidos pela Record eram juvenis. Nesta edição, o catálogo do selo jovem Galera Record vai ocupar a maior parte do estande da editora.

A Record traz neste ano uma das grandes apostas de sucesso da feira, a escritora americana Cassandra Clare, criadora da série "Os Instrumentos Mortais". Fenômeno da literatura jovem, a autora já vendeu mais de 26 milhões de exemplares no mundo.

Clare vai autografar seus livros neste sábado (23) e domingo (24). Nas redes sociais, quase 6.000 leitores já confirmaram presença.

"É um esquema de show de rock mesmo. Exige muita organização, controle da fila, de senha. Os fãs gritam, choram, é uma loucura", diz Ana Lima, editora da Galera.

No estande da editora Rocco, livros para o público infantil ou juvenil também serão os mais destacados. Um dos trunfos da editora é Thalita Rebouças, que já vendeu 1,4 milhões de exemplares.

Na Bienal, a Rocco vai lançar uma nova aposta para este público, o selo Fantástica, que reunirá tramas de fantasia e ficção científica.

Editoria de Arte/Folhapress

"Nós procuramos levar os que a garotada mais gosta mesmo. Às vezes precisamos chamar seguranças para conter os fãs. Não é um evento para discussões mais literárias", conta o editor Paulo Rocco.

BARULHO

Segundo dados da empresa de pesquisa GfK, o segmento infantojuvenil representou 19,5% do total de vendas em 2013 no Brasil.

"A participação do público jovem é expressiva e fundamental para a Bienal", diz Karine Pansa, presidente da CBL (Câmara Brasileira do Livro), que organiza a feira.

"Nós fomos nos adaptando a esse público. Tanto que nosso sistema de comunicação está muito voltado para as redes sociais, que é onde a garotada mais curte."

Para as editoras, a Bienal não é um evento financeiramente lucrativo. Os preços do aluguel e da montagem do estande são altos (algo em torno de R$ 200 mil para um espaço de médio porte), e as vendas nem sempre compensam. A grande vantagem é dar visibilidade ao catálogo.

Quando as editoras não se encaixam nesse perfil mais juvenil e popular, às vezes nem isso vale a pena. A Cosac Naify, por exemplo, participou pela última vez em 2010.

"Não dá público para livros mais literários. Uma vez vi o Moacyr Scliar lançando um livro lá e não tinha ninguém", diz Bernardo Ajzenberg, diretor-executivo da Cosac.

Rejane Dias, editora-executiva do Grupo Autêntica, diz que a empresa só estará na Bienal porque possui um bom catálogo juvenil (Paula Pimenta, Bruna Vieira).

"Levar para lá um autor não muito famoso, com um livro mais complexo, é um risco. A feira é longe, é cara, é barulhenta. Não é o lugar de quem busca um livro mais literário."

O escritor Cristovão Tezza irá participar de debate programado pelo evento, mas costuma dizer que a Bienal é, para o autor desconhecido, o pior lugar para lançar um livro.

"Você desaparece ali dentro. A Bienal junta tudo. Já fiz palestra quase ao lado de um show de rock. As pessoas nem conseguiam ouvir. Por outro lado, tudo o que chama a atenção para o livro é positivo."


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