Folha de S. Paulo


Modernismo tropical do Triptyque vai ao Pompidou

Numa cidade em que a "natureza engole os muros", a arquitetura deve ser bruta e ao mesmo tempo tropical. Essa cidade é São Paulo, e esses arquitetos são três franceses e uma brasileira que se juntaram no escritório Triptyque.

Desde que deixaram Paris, onde estudaram há 14 anos, e se instalaram na maior cidade brasileira, eles vêm criando uma arquitetura híbrida, alinhada à austeridade da escola paulista, sem ornamentos e famosa pelo concreto armado, e moldada pelo que eles veem como um confronto com a metrópole.

Dois projetos do grupo, um prédio de escritórios em São Paulo e o desenho de um novo pavilhão para o Instituto Inhotim, no interior mineiro, acabam de entrar para o acervo do Pompidou, em Paris.

Divulgação
Prédio de escritórios projetado pelo escritório franco-brasileiro Tryptique na rua Colômbia, em São Paulo
Prédio de escritórios projetado pelo escritório franco-brasileiro Tryptique na rua Colômbia, em São Paulo

Eles também estão escalados para reformar o Liceu de Artes e Ofícios, estrutura do século 19 no centro paulistano que pegou fogo no início do ano e agora será reconfigurada como centro cultural.

"Nosso desejo de trabalhar aqui vem da vontade de intervir na cidade contemporânea", diz Gui Bousquet, um dos sócios do Triptyque. "Queríamos lidar com a metrópole tropical, já que os desafios do urbanismo do século 21 não estariam em Paris."

Nesse ponto, os projetos da firma buscam criar uma conexão profunda com o lugar onde estão construídos.

Enquanto o prédio na rua Colômbia, na zona oeste paulistana, tem uma fachada ondulada de feixes de cedro, lembrando o brise-soleil do edifício Copan em escala reduzida, o novo pavilhão do Inhotim estará camuflado na paisagem, ocupando uma espécie de cratera de minério de ferro esculpida no terreno.

"Tudo isso é realizado de um jeito quase artesanal. É o elemento que enraíza esse projeto num lugar e numa tradição", diz Valentina Moimas, curadora do Pompidou. "Eles trabalham nessa passagem de uma cultura à outra sem nenhum saudosismo."

Isso fica claro na forma como cânones do alto modernismo, da pureza exacerbada das formas à fusão de espaços internos e externos, surgem metabolizados nas estruturas feitas pelo grupo.

Não é uma apropriação fetichista do passado, mas a afirmação de uma linguagem contemporânea moldada pela experiência de uma cidade como São Paulo, já muito distante da utopia modernista.

"É um modernismo de clima tropical, só que mais depurado", resume Carol Bueno, outra sócia do escritório. "Nossos materiais são os mais brasileiros, mas a gente digere isso de outra forma, com inspiração sensorial."

RACIONALISMO EM CRISE

Essa ideia de uma arquitetura como experiência se traduz na forma como a luz do sol atravessa todo o prédio de escritórios da rua Colômbia, ou nas escadas que viraram praças suspensas no antigo prédio da Light, no centro paulistano, transformado por eles em novo centro cultural.

Também passa pelo topo dos edifícios. "A vista aérea de São Paulo impressiona mais do que a visão do nível da rua", afirma Bousquet.

"Então pensamos na quinta fachada do prédio, que é o telhado, às vezes com umas estruturas em balanço sobre a rua. Tentamos quebrar a linguagem racionalista com esses jogos volumétricos. É um racionalismo posto em crise."


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