Folha de S. Paulo


Morre em São Paulo o historiador Nicolau Sevcenko, aos 61 anos

O historiador Nicolau Sevcenko morreu na noite desta quarta-feira (13) em sua casa no bairro do Belém, em São Paulo, aos 61 anos.

A informação foi confirmada à Folha por sua mulher, a editora Cristina Carletti. Ela afirmou que ele morreu provavelmente devido a um infarto, mas que ainda será realizada uma autópsia para determinar a causa.

O historiador será cremado em cerimônia na Vila Alpina, na zona leste de São Paulo, na sexta-feira (15), às 15h.

A ministra da Cultura, Marta Suplicy, divulgou uma nota de pesar sobre a morte de Sevcenko.

"Nicolau Sevcenko deu grande contribuição para a maneira de o Brasil pensar a si mesmo. Em seus textos, aulas e palestras a cultura tinha o justo protagonismo que precisa ter para que o Brasil se reconheça e se valorize no mundo. Com sua partida, a cultura brasileira perde um apaixonado. Toda nossa solidariedade a alunos, leitores e à família", escreveu.

Joao Wainer/Folhapress
O historiador Nicolau Sevcenko, em imagem de 2002
O historiador Nicolau Sevcenko, em imagem de 2002

Descendente de ucranianos, Sevcenko nasceu em São Vicente, na baixada santista, em 1952, e cresceu na capital paulista, no bairro de Vila Prudente, na zona leste, onde havia uma concentração de imigrantes eslavos.

Graduou-se em história pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), em 1975, e se dedicava ao estudo da cultura brasileira e do desenvolvimento de cidades como São Paulo e Rio.

O historiador foi editorialista da Folha e responsável pela pesquisa que deu origem à primeira edição do livro "Primeira Página" do jornal, no qual assina o texto de introdução.

Ele fez doutorado em história social também pela FFLCH-USP e concluiu pós-doutorado em história da cultura pela Universidade de Londres, em 1990, onde dividia sala com Eric Hobsbawm (1917-2012).

Segundo costumava dizer, optou pela pesquisa em história social numa época em que predominavam outras áreas, como política e economia.

Em 1992, obteve sua livre-docência pela USP, sob o título "Orfeu Extático na Metrópole".

Lecionou também na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Professor titular da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, Sevcenko era uma referência nos estudos de história da cultura, história brasileira e da urbanização, sobretudo no período da virada do século 19 para o 20.

O historiador se orgulhava de ter inaugurado a história cultural no Brasil, bem como o uso da literatura como fonte histórica. Sua tese de doutorado, o livro "Literatura como Missão" (Companhia das Letras, esgotado), tratava das tensões socioculturais no período da Primeira República por meio de obras de escritores como Lima Barreto (1881-1922) e Euclydes da Cunha (1866-1909).

Sevcenko e a mulher não tinham filhos.

PRINCIPAIS OBRAS DE NICOLAU SEVCENKO

'Orfeu Extático na Metrópole' (1992)
(Companhia das Letras; esgotado)

'Literatura como Missão' (1985)
(Companhia das Letras - 2ª ed.; esgotado)

'A Corrida para o Século XXI' (2001)
(Companhia das Letras)

'A Revolta da Vacina' (1983)
(Cosac Naify)


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