Folha de S. Paulo


Mesa com Carr e Mochkofsky tem debate morno sobre mídia e governo

Dois grandes jornalistas - o crítico de mídia do "The New York Times", David Carr, e a repórter investigativa argentina Graciela Mochkofsky, num debate chamado "Narradores do Poder". O que prometia ser um encontro delirante, com grandes histórias de bastidores sobre a relação da mídia com os governos, acabou sendo uma conversa agradável, porém um tanto burocrática. Culpa, talvez, das leituras de trechos dos livros pelos próprios autores, recurso que prejudica o ritmo do debate e entedia o espectador. Mochkofsky, em especial, dedicou boa parte de suas falas a resumir os livros que escreveu.

Carr abriu a mesa lendo um trecho de "A Noite da Arma", livro autobiográfico barra pesada que detalha sua vida de viciado em drogas e álcool, e que o mediador da mesa, o jornalista João Gabriel de Lima, definiu muito bem como "um livro que inaugura um gênero: a reportagem sobre si mesmo".

Mochkofsky contou detalhes de "Estação Terminal", que sai em e-book no Brasil e relata a tragédia de um acidente de trem em Buenos Aires. "É uma crônica não só de um acidente, mas da decadência de um país". Depois, falou de dois outros livros em que investiga a relação da mídia com o poder na Argentina: o primeiro, sobre o argentino Jacobo Timerman, famoso jornalista e editor que apoiou a ditadura de Videla, mas depois foi preso e torturado pelo regime, e o segundo sobre a relação entre o grupo de mídia "Clarín" e os governos Nestor e Cristina Kirchner.

A conversa esquentou um pouco quando Carr - que cometeu uma pequena gafe, ao dizer que havia visto músicos tocando "salsa" numa praça de Paraty - elogiou o jornalismo de Gay Talese, autor de famosos livros de reportagem: "Talese nos ensinou que nada supera ir para a rua e encontrar grandes personagens". Depois, elogiou a postura profissional de Glenn Greenwald, jornalista que revelou o escândalo da espionagem do governo norte-americano e que se considera não só jornalista, mas "ativista". "Glenn sempre procurou a verdade do caso, e isso é importante".

Carr terminou caindo em contradição ao analisar o futuro do jornalismo. Primeiro, disse que acha que o jornalismo está numa "fase de ouro", com reportagens importantes sendo publicadas com frequência, mas depois afirmou que a imprensa norte-americana não está conseguindo "mover uma palha" no país. "Mas ainda acredito que o jornalismo será uma força para o bem, agora e no futuro".


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