Folha de S. Paulo


'Diante da mulher de esquerda, o conservador esconde seus livros', brinca João Pereira Coutinho

"O nível de guerrilha ideológica é maior, mais violento e perigoso no Brasil do que em Portugal", foi a frase de abertura o colunista da Folha João Pereira Coutinho em conversa na tarde deste sábado (2) na Casa Folha, em Paraty. O começo quente deu o tom do debate, mediado pela jornalista Sylvia Colombo.

O português Coutinho afirmou que em seu país a existência de uma direita e de uma esquerda é entendida como uma normalidade democrática, enquanto no Brasil as duas posições políticas querem se destruir.

O tema principal da conversa foi o conservadorismo, que, segundo ele, é considerado praticamente um insulto. Coutinho começou esclarecendo o significado da palavra: enquanto o reacionário quer voltar a um estado passado, que considera perfeito, e o revolucionário quer planejar o estado perfeito no futuro, o conservador pensa no presente.

"O conservador que manter o que funciona, não o que já existe", disse. Enquanto para um liberal o valor fundamental é a liberdade individual e para o socialista é a igualdade, o conservador analisa o contexto histórico para saber o que é mais importante. "Ele se recusa a discutir política em abstrato."

Questionado por um membro do público, ele esclareceu que o conservador quer uma sociedade mais igualitária. "O maior medo que ele tem é de uma situação potencialmente revolucionária, que ocorre numa sociedade desigual."

Para Coutinho, o brasileiro é bastante contraditório. Exemplifica: enquanto a população considera os políticos corruptos, quer uma presença maior do Estado, que é governado justamente pelos políticos corruptos.

Ele afirmou que no Brasil exite uma "orfandade de direita". "Li os programas eleitorais do DEM e do PP e ri, porque eles não são de direita". Isso seria explicado pela vergonha dos partidos brasileiros de se assumir como de direita. "Entendo isso, porque houve uma ditadura militar aqui."

Os desafios da direita são, para ele, tirar esse estigma da ditadura e oferecer alternativas para acabar com a desigualdade.

Coutinho brincou, no entanto, que diante de uma mulher bonita se esquece de todas as ideologias. "Diante de uma mulher de esquerda o conservador esconde todos os seus livros", riu.


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