Folha de S. Paulo


'Nós cuidamos da floresta para todos', afirma líder indígena em debate

Em conversa mediada pela jornalista Eliane Brum, a fotógrafa Claudia Andujar e o xamã e líder ianomâmi Davi Kopenawa conversaram nesta sexta-feira (1º) na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) sobre a situação dos índios no Brasil. Quando chegaram nas questões políticas, de demarcação de terras indígenas, porém, a mesa teve de terminar.

Davi, que por sua atuação política está ameaçado de morte, contou o mito de seu povo sobre a queda do céu. Há centenas de anos, o céu caiu sobre as pessoas e matou todos os que viviam na Terra. Os ianomâmi tentam impedir que isso ocorra novamente.

"Nosso povo não é rico em dinheiro. Não temos avião ou carros. Mas somos ricos de conhecimento", disse ele. "Vocês pensam que a Terra é grande, mas não é. O trabalho que fazemos é para todos." A função do pajé, segundo ele, é entrar em contato com o espírito da Terra para que todos possam viver com saúde.

"A prioridade é a floresta, que é o pulmão do mundo. Nós estamos cuidando dela."

A conversa esquentou quando Davi afirmou que os não indígenas chegam derrubando suas árvores em Roraima e no Amazonas e matando o seu povo, que é muito menor em termos numéricos. Ele pediu ajuda aos não indígenas para cobrar do governo federal que não lhes faça mal.

Claudia, que morou com os ianomâmi por "muitos anos", a partir de 1971, disse que se sentiu em casa com eles. "Certos humanos e países querem dominar os outros. Se isso acontecer, ocorrerá o que o mito yanomami diz. O céu vai cair e o mundo vai acabar."

Ela exibiu um vídeo de 17 minutos com algumas de suas imagens feitas durante o período com os ianomâmi.


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