Folha de S. Paulo


Michael Pollan elogia culinária brasileira em discussão gastronômica

"O maior problema que temos hoje com relação à comida é que delegamos sua produção a grandes corporações. O segredo de comer bem não está nos ingredientes que consumimos, mas sim no fato de se tratar de comida de verdade ou não", disse o escritor norte-americano Michael Pollan, em sua mesa na Flip.

Mais cedo, o autor havia dito que experimentara no Brasil feijoada, moqueca (inclusive uma vegetariana) e cachaça, e que tinha gostado de tudo. "Vocês têm comida de verdade aqui."

Para Pollan, uma pergunta que pareceria estúpida no passado, "de onde vem a comida?", hoje em dia é difícil de responder, alertando para a grande inserção de químicos e conservantes na comida industrializada. "Além disso, os rótulos são muito confusos. Aqui no Brasil, comprei uma água que dizia: 'não contém gluten'. Eu nunca tinha ouvido falar de uma água com glúten, que bom que foi esclarecido na garrafa", disse, causando risos por parte da platéia.

O escritor explicou que, ao comermos comida industrializada, estamos matando a nossa fome, mas deixando que fiquem "famintas" as bactérias que atuam no nosso organismo para ajudar no processo da digestão e nos proteger de alergias. "Se você come no McDonald's se sente alimentado, mas suas bactérias estão sofrendo, e você está mais exposto a ter diabetes no futuro." E acrescentou: "A diferença entre fast food e comida é a mesma de pornografia em relação ao sexo de verdade".

Contou que começou a pesquisar a partir da experiência de cozinhar em casa e para sua família. E que a velha tradição de cozinhar a mais, deixando que o que sobra das refeições vire saladas ou outros pratos para refeições seguintes é muito saudável. "Em casa se vamos fazer um salmão, fazemos mais do que vamos comer, e no outro dia aproveitamos o que sobrou num outro prato. Esse processo de deixar que uma refeição dê origem à seguinte é muito importante, dá coerência à nossa alimentação."

Pollan criticou a política de alimentação dos EUA, dizendo que deveria integrar-se à de saúde e que o governo deveria deixar de dar apoio a indústria de adoçantes.

Reforçou, ainda, a importância dos vegetais e dos grãos. E criticou a indústria de combustível que usa cana-de-açúcar ou milho. "Em vez de alimentar nossas crianças que passam fome, estamos alimentando nossas SUVs e caminhões."


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