Folha de S. Paulo


Análise: Cinema direto de Robert Drew marcou documentário mundial

Robert Drew, morto na última quarta-feira (30), não era conhecido do chamado "grande público", como acontece habitualmente com documentaristas. No entanto, ao morrer, aos 90 anos, de causas não reveladas, deixa uma sólida herança para cineastas e espectadores.

Antigo repórter da "Life", realizou a partir de 1954 filmes que o fixaram como um dos criadores do "cinema verdade", ao lado do francês Jean Rouch (1917-2004).

O ponto central de seu cinema não era o relato filmado de um determinado acontecimento. Nem a formulação de um ponto de vista exterior ao filme, como se usava fazer nessa época.

Sua ideia é que a captação dos fatos deveria servir para expor uma situação geral da sociedade no lugar e no tempo em que aqueles fatos acontecem.

Drew integra, assim como Richard Leacock (1921-2011), D.A. Pennebaker, 89, e o próprio Rouch, uma geração que busca, na apreensão direta da realidade, ampliar a percepção que o cinema pode oferecer do contexto em que se dão os acontecimentos.

Um instrumento foi capital para a obtenção dos resultados a que chegou: a introdução do som direto leve, que possibilitou ao realizador substituir o comentário em off pelo registro imediato do som do evento que está sendo mostrado.

Foi assim com "Primárias" (1960), em que registrou a campanha de Hubert Humphrey (1911-1978) e John Kennedy (1917-1963) nas decisivas primárias dos democratas em Wisconsin -seu primeiro filme de enorme repercussão.

"Crisis" (1963) não é menos significativo. Drew instalou câmeras no gabinete presidencial e no do Estado do Alabama no exato momento em que o governador George Wallace (1919-1998) resistia às medidas antissegregacionistas do governo Kennedy.

O filme acabou se tornando elemento importante na luta pela igualdade de direitos dos negros norte-americanos.

Premiado várias vezes, Drew deixou forte marca sobre o documentário mundial.

Um exemplo relevante dessa influência encontra-se no filme "Entreatos", em que João Moreira Salles documentou parte da campanha de Lula à presidência em 2002.


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