Folha de S. Paulo


Para o russo Vladimir Sorókin, 'Putin passará, mas o romance fica'

Totalmente vestido de branco, que combinava com seu cavanhaque, bigode e cabelo, o russo Vladimir Sorókin explicou sua condição de dissidente em mesa na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), nesta quinta-feira (31).

"No Estado totalitário, não existem opositores, mas dissidentes, é o que está acontecendo na Rússia destes dias."

O autor de "Dostoiévski Trip" dividiu a mesa com a norte-americana de origem turca Elif Batuman, autora do livro "Os Possessos".

Sorókin recordou como era escrever durante a Rússia soviética ("escrevíamos e guardávamos na gaveta"), acrescentando que, nos dias de hoje, o que une os autores do underground é o fato de querer uma "Rússia democrática".

O escritor reforçou, porém, que não gosta da literatura que deixa a política imiscuir se sem razão de ser, caso da literatura soviética. "Foi um buraco negro na história da literatura russa. Foi interessante como fenômeno. Hoje não dá para ler sem rir".

Perguntado sobre o líder Vladimir Putin, o autor disse que "ele irá passar. O romance fica".

Sorókin também fez críticas a um dos mais importantes nomes da literatura russa, Fiódor Dostoiévski (1821 1881). "Ele escrevia muito rápido, às vezes nem revisava. Nabokov, por exemplo, não gostava de Dostoiévski".

Já Batuman disse que via um vínculo entre Sorókin e Dostoiévski, "ele era estranho, e isso compõe perfeitamente com a escrita louca de Sorókin".

Ambos discutiram o humor na literatura russa. Batuman disse que ele é muito mais presente na literatura russa do que se imagina. "As pessoas têm ideia da literatura russa como muito trágica, mas isso é injusto, a verdade é que muito se perde na tradução."

Sorókin, por sua vez, afirmou que o humor, assim como a vodka, são necessários para enfrentar a severidade russa. Porém, acrescentou que o humor russo é diferente do francês ou do inglês, porque os russos fazem piadas como se fossem "a última".


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