Folha de S. Paulo


'A diplomacia é uma profissão de autoexílio', diz Vidal Porto em Paraty

Alexandre Vidal Porto e Silviano Santiago abriram na manhã desta quinta (31) a programação da Casa Folha com a palestra "Sexualidade, Felicidade e Autoexílio". Vidal Porto publicou neste ano "Sérgio Y Vai à América", jornada de um jovem paulistano que vai morar em Nova York para mudar radicalmente de vida.

Já Santiago, que também participa da programação oficial da Flip, falou do recém-lançado "Mil Rosas Roubadas", no qual mescla realidade e ficção para comentar sua longa amizade com o produtor musical Ezequiel Neves (1935-2010).

Ambos começaram o debate comentando a importância da morte em seus livros.

"Meu livro é sobre o momento em que você se dá conta de que perdeu a pessoa que foi tudo em sua vida. Meu narrador começa a escrever a biografia do amigo e começa a escrever a própria biografia. É uma tentativa de rememoração", disse Santiago.

No livro de Vidal Porto, um psiquiatra, na casa dos 70 anos, também reavalia sua trajetória ao lidar com a morte de um ex-paciente.

Outro traço, desta vez biográfico, une os autores: ambos passaram longos períodos em Nova York. Vidal Porto, que também é diplomata e colunista da Folha, conta que seu livro é um tributo a Nova York, onde assumiu que era gay.

"A diplomacia é uma profissão de autoexílio. Vive longe da família, você não pode ir ao aniversário do sobrinho. Você corta na carne essa relação familiar. E o que você ganha com isso? Às vezes, o autoexílio é uma estratégia de sobrevivência, de você viver sua vida do jeito que quer. Em todo serviço diplomático do mundo você encontra uma comunidade homossexual respeitável", afirmou.

"Quando eu era criança, o símbolo do gay era o cabeleireiro da minha mãe. Mas eu não queria ser isso. Ser diplomata dá uma certa respeitabilidade. Nos dois dias por ano em que você se encontra com a família, é só segurar a onda", completou, sob fortes aplausos do público.


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