Folha de S. Paulo


Acompanhe o raio-X da festa literária, mesa a mesa

A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começou nesta quarta-feira (30), trazendo atrações nacionais e internacionais ligadas à literatura e às artes.

Além dos livros, humor, jornalismo, música, artes plásticas, arquitetura e política são alguns dos recortes da programação, tanto oficial quanto paralela.

A Folha também promove durante o evento uma série de debates e lançamentos de livros..

Acompanhe abaixo as mesas e os debates desta edição do festival, que tem como homenageado o artista Millôr Fernandes (1923-2012).

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MESA 15 - ENCONTRO COM JHUMPA LAHIRI

Raquel Cunha/Folhapress
A britânica Jhumpa Lahiri na Tenda dos Autores
A britânica Jhumpa Lahiri na Tenda dos Autores

Duração: 1h10

Estado do público: sonolento; depois de meia hora muitas pessoas começaram a deixar a tenda

Lição: é difícil prender a atenção do público com uma longa entrevista sobre o processo criativo de um autor ainda pouco conhecido no Brasil

O pior: os minutos gastos com a autora respondendo à pergunta sobre quantos idiomas fala e a longa explicação sobre o motivo de ter aprendido a falar italiano

O melhor: a descrição da história dos dois irmãos, vizinhos de sua família em um bairro pobre na Índia, assassinados por grupos paramilitares após uma tentativa de golpe

Jhumpa Lahiri descreveu o processo de criação de seu romance mais recente, "Aguapés", e contou como a ideia surgiu após ouvir, ainda adolescente, a história dos irmãos assassinados diante dos próprios pais.

A palestra começou com a leitura de um trecho do romance e poderia ter sido interessante se Jhumpa Lahiri não permanecesse, por mais de uma hora, descrevendo detalhadamente a pesquisa que fez para a obra e todo o processo para escrevê-la.

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MESA 13 - A VERDADEIRA HISTÓRIA DO PARAÍSO

Danilo Verpa/Folhapress
Etgar Keret (esq.) e Juan Villoro (dir.) na Casa do Autor Roteirista
Etgar Keret (esq.) e Juan Villoro (dir.) na Casa do Autor Roteirista

Duração: 1h15

Poderia ter durado: O dobro do tempo

Lição: Debate conciliou literatura, política e piadas na medida certa

O Melhor: Keret foi um arraso

O Pior: Sobrou pouco tempo para as perguntas da plateia

O encontro entre o israelense Etgar Keret e o mexicano Juan Villoro, na tarde deste sábado (dia 2), foi um dos melhores momentos da 12ª edição da Flip.

Ótimos oradores, os dois escritores fisgaram a atenção do público. Conseguiram conciliar reflexão sobre literatura, comentários políticos e humor na medida. Não foram herméticos, nem rasos.

O tom irônico já se manifestava no título do debate, "A Verdadeira História do Paraíso", referência à sátira religiosa que Millôr Fernandes publicou na revista "Cruzeiro" nos anos 1960.

O paraíso, nas visões de Keret e Villoro, também nada tem de angelical _muitas vezes, na verdade, é difícil distingui-los do inferno. Os dois fazem de seus livros um retrato da beleza e do horror de seus países.

Keret lança no Brasil "De Repente, uma Batida na Porta" (Rocco), coletânea de contos que prima pelo humor negro e surrealismo. Ele leu trecho de um deles no começo do debate. "Goiaba" conta a história de um homem que, em seus últimos segundos de vida, faz um último pedido a um anjo: apenas "a paz mundial".

A temática da história serviu de mote para o mediador Ángel Gurría-Quintana propor a Karet uma reflexão sobre a ofensiva militar israelense iniciada na Faixa de Gaza há quase um mês.

"Essa ideia de paz mundial é um pouco messiânica, uma coisa relacionada a Deus. Acontece que os conflitos são feitos pelos homens e são resolvidos pelos homens. Precisamos chegar a um meio termo, e para isso cada lado precisa abrir mão de alguma coisa para tornar a vida mais tolerável", disse.

"Podemos fazer muita coisa a respeito do conflito", completou. "É só um pedaço de terra que pode ser dividido em dois lados."

De short, meia branca e tênis, Keret foi o destaque do debate. Disparou uma sucessão de frases certeiras e fez uma bela defesa do poder da fabulação contra os horrores do mundo real.

"O humor é uma forma para enfrentar a realidade. Quando você vai pegar uma panela quente, você precisa de uma tolha. O humor para mim é a tolha _uma forma de tocar algo que não pode pegar."

No romance "Arrecife", o mexicano Villoro também retrata uma espécie de "paraíso fracassado", no qual os personagens são assombrados pelo tédio e pela violência desenfreada.

"É difícil ser indiferente às coisas que acontecem ao redor de nós. Uma coisa importante da literatura é manter um senso de humor e de esperança mesmo em meio à catástrofe. A felicidade e o humor continuam a ser possíveis."

O público empolgou-se em vários momentos da conversa. Um dos mais aplaudidos foi estimulado por uma pergunta da plateia. Um dos ouvintes queria saber a opinião de Keret sobre uma declaração recente de um membro do governo de Israel, que classificou o Brasil de "anão diplomático".

"Não sabia disso. Mas me parece uma idiotice. Em Israel, em momentos de guerra, quanto mais fervorosas, mais agressivas as pessoas são. Em dias melhores, teríamos uma resposta mais inteligente."

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CASA FOLHA: AS IDEIAS CONSERVADORAS EXPLICADAS A REVOLUCIONÁRIOS E REACIONÁRIOS

Raquel Cunha/Folhapress
O escritor português João Pereira Coutinho durante fala na Casa Folha
O escritor português João Pereira Coutinho durante fala na Casa Folha

Duração: uma hora

Poderia ter durado: foi o tempo certo, todo o mundo que queria fazer perguntas conseguiu

A lição: conservador e reacionário não são a mesma coisa

Resumo: "O nível de guerrilha ideológica é maior, mais violento e perigoso no Brasil do que em Portugal", foi a frase de abertura o colunista da Folha João Pereira Coutinho em conversa na tarde deste sábado (2) na Casa Folha, em Paraty. O começo quente deu o tom do debate, mediado pela jornalista Sylvia Colombo.

O português Coutinho afirmou que em seu país a existência de uma direita e de uma esquerda é entendida como uma normalidade democrática, enquanto no país as duas posições políticas querem se destruir.

O tema principal da conversa foi o conservadorismo, que, segundo ele, é considerado praticamente um insulto. Coutinho começou esclarecendo o significado da palavra: enquanto o reacionário quer voltar a um estado passado, que considera perfeito, e o revolucionário quer planejar o estado perfeito no futuro, o conservador pensa no presente.

"O conservador que manter o que funciona, não o que já existe", disse. Enquanto para um liberal o valor fundamental é a liberdade individual e para o socialista é a igualdade, o conservador analisa o contexto histórico para saber o que é mais importante. "Ele se recusa a discutir política em abstrato."

Questionado por um membro do público, ele esclareceu que o conservador quer uma sociedade mais igualitária. "O maior medo que ele tem é de uma situação potencialmente revolucionária, que ocorre numa sociedade desigual."

Para Coutinho, o brasileiro é bastante contraditório. Exemplifica: enquanto a população considera os políticos corruptos, quer uma presença maior do Estado, que é governado justamente pelos políticos corruptos.

Ele afirmou que no Brasil exite uma "orfandade de direita". "Li os programas eleitorais do DEM e do PP e ri, porque eles não são de direita". Isso seria explicado pela vergonha dos partidos brasileiros de se assumir como de direita. "Entendo isso, porque houve uma ditadura militar aqui."

Os desafios da direita são, para ele, tirar esse estigma da ditadura e oferecer alternativas para acabar com a desigualdade.

Coutinho brincou, no entanto, que diante de uma mulher bonita se esquece de todas as ideologias. "Diante de uma mulher de esquerda o conservador esconde todos os seus livros", riu.

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CASA FOLHA: DA CRÔNICA À BIOGRAFIA

Raquel Cunha/Folhapress
Os jornalistas Thais Bilenky e Ruy Castro durante mesa na Casa Folha
Os jornalistas Thais Bilenky e Ruy Castro durante mesa na Casa Folha

Duração: 1 hora

Poderia ter durado: Mais uma meia hora, pelo menos

A Casa Folha acordou repleta de gente para receber Ruy Castro neste sábado (dia 2/8). Fora do imóvel, uma longa fila em torno da porta e das janelas tentava ver e ouvir o escritor e colunista da Folha.

Em conversa mediada pela jornalista da Folha Thais Bilenky, Ruy tratou das diferenças e semelhanças entre a biografia e a crônica, dois gêneros nos quais é mestre.

"Minha crônica no jornal tem 1.800 caracteres. Já a biografia da Carmen teve 2 milhões. A crônica é um guardanapo de papel, a biografia é um mar. Mas o objetivo de ambas é o mesmo: a clareza, a simplicidade, a verdade. Se puder acrescentar um pouco de charme e humor, melhor ainda."
Ruy começou uma carreira de êxito como biógrafo no começo dos anos 1990. Já publicou livros sobre a bossa nova ("Chega de Saudade"), Nelson Rodrigues("O Anjo Pornográfico") e Garrincha ("Estrela Solitária").

Na Folha, escreve crônicas na página 2 há sete anos. Ruy diz que a crônica é um gênero de difícil definição ("É crônica? É jornalismo?"), mas longa resistência.

"Por mais frágil, superficial que possa parecer, ela tem uma duração maior que coisas aparentemente mais importantes."

Ruy definiu que o biógrafo deve ser neutro, uma espécie de vidro entre o texto e o leitor, sem emitir opinião, apenas fatos. "Deve ser um idiota da objetividade, como dizia o Nelson Rodrigues, totalmente apegado às informações. Já o cronista tem que ser um idiota da subjetividade."

Grande parte da conversa tratou das lutas entre biógrafos e biografados. A biografia sobre Garrincha, publicada em 1995, foi alvo de um processo por parte da família do jogador que se arrastou por 11 anos. O livro ficou um ano fora de circulação.

Ruy acredita que hoje a situação é mais favorável aos biógrafos. Em maio, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que permite a publicação de biografias não autorizadas. Ele também diz que a opinião pública está mais mobilizada a defender a liberdade de expressão.

Cita como exemplo a recente publicação de "O Réu e o Rei", no qual Paulo Cesar de Araújo retrata a disputa que levou à proibição da biografia "Roberto Carlos em Detalhes", de 2006. A obra foi recolhida em 2007 após acordo entre o cantor, a editora (Planeta) e autor.

"Quando o Paulo Cesar disse que faria uma biografia do Roberto, eu lhe disse: procure outro assunto, ele vai te processar. O caso dele é psiquiátrico. Se você falar da perna mecânica dele, ele vai pra cima de você. Ele acha que o país desconhece que ele tem uma perna de pau."

Ruy também criticou Chico Buarque, que já se manifestou contra a publicação de biografias não autorizadas.

"Ninguém esperava isso do Chico. Foi o mais perseguido pela ditadura, não devia ter tomado essa posição. O Roberto é um censor nato, tem alma de censor. O Chico ter uma postura próxima a isso é inadmissível. Mais que todos os outros, ele não tem direito de ser censor", afirmou, sob fortes aplausos do público.

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MESA 10: 2X BRASIL, COM CACÁ DIEGUES E EDU LOBO

Raquel Cunha/Folhapress
O músico e compositor Edu Lobo (esq.) e o cineasta Cacá Diegues lançam livros de memórias
O músico e compositor Edu Lobo (esq.) e o cineasta Cacá Diegues lançam livros de memórias

Duração: 1h20

Poderia ter durado: O tempo foi suficiente

Lição: Não basta dois bons convidados para fazer um debate marcante

O pior: Ficou muito disperso entre vários temas, sem aprofundar nenhum

O melhor: As boas tiradas dos convidados

Resumo: O cineasta Carlos Diegues e o músico Edu Lobo encerraram a programação da Flip na sexta (1º).

Ambos lançam na Flip livros de memórias. Diegues publica a autobiografia "Vida de Cinema" (ed. Objetiva). Já o músico é tema de"Edu Lobo: São Bonitas as Canções - Uma Biografia Musical" (Edições de Janeiro), de Eric Nepomuceno. A mediação da mesa foi do jornalista João Cabral de Lima.

O debate passou por vários tópicos da biografia e carreira dos convidados, temperado por tiradas espirituosas dos dois. Com vários assuntos dispersos, a mesa não aprofundou nenhum tema e não teve grandes momentos.

Lobo contou que era um estudante da PUC quando, a convite de uma amiga, pode conhecer Vinicius de Moraes numa festa e tocar para ele.

Vinicius perguntou se o jovem aspirante a música tinha alguma samba sem letra. A parceria começou logo ali e resultou na música "Só me Fez Bem".

Com medo de perder a letra, Lobo guardou o pedaço de papel com a letra dentro da meia.

"Minha vida mudou completamente a partir daí. Estava estudando para ser diplomata. Fui salvo da diplomacia por um diplomata [Vinicius]."

Lobo ainda provocou risos na plateia ao lembrar os embates dele e de Chico Buarque com os tropicalistas (Caetano Veloso, Gilberto Gil) nos anos 1960.

"Chico e eu éramos os caretas, porque usávamos smoking e tal. Os tropicalistas tinham uns arranjos mais pro lado dos Beatles. Mas a gente não brigou com eles. Eles é que não queriam conversa com a gente. Deviam nos achar velhos."

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MESA 8 - LIVRE COMO UM TÁXI, COM ANTONIO PRATA E MOHSIN HAMID

Raquel Cunha/Folhapress
O paquistanês Mohsin Hamid na Tenda dos Autores
O paquistanês Mohsin Hamid na Tenda dos Autores

Duração: uma hora e 20 minutos

Poderia ter durado: um pouco mais, a organização teve que mandar um bilhete para a mesa avisando que o tempo já tinha estourado

A lição: periferia é periferia em qualquer lugar do mundo

O melhor: a sintonia entre os participantes. Os autores tinham lido a obra um do outro, tinham criado um vínculo antes da mesa e suas respostas dialogavam

Resumo: Quando a conversa entre o escritor e colunista da Folha Antonio Prata e o paquistanês Mohsin Hamid começou, o curador da festa, Paulo Werneck, afirmou que o título dado à mesa, "livre como um táxi", era tão vago que eles poderiam falar sobre qualquer coisa.

Os dois aproveitaram então para, mediados por Teté Ribeiro, editora da revista "Serafina", da Folha, conversar sobre as semelhanças entre seus estilos, contar casos, comentar trechos de seus textos mais conhecidos e discutir assuntos variados —durante cinco minutos, Hamid discorreu sob a canção "Taj Mahal", de Jorge Ben Jor, que, em suas palavras, ou massacra a história ou a reinterpreta de maneira brilhante.

Em clima de intimidade, os dois bateram um papo bem-humorado. Hamid ria de todas as piadas de Prata e disse ter se sentido humilhado pelo colega no almoço. "Ele tem sete anos a menos que eu e publicou dez livros. Eu tenho só três!", brincou.

Prata, que disse ter lido a obra de Hamid ao ser convidado para dividir a mesa com ele, diz que se sentiu paquistanês durante a leitura. "Como diria o filósofo Mano Brown, periferia é periferia em qualquer lugar do mundo."

MESA 7 - MARCADOS, COM CLAUDIA ANDUJAR E DAVI KOPENAWA

Danilo Verpa/Folhapress
Mesa com a fotógrafa Claudia Andujar e o líder ianomâmi Davi Kopenawa na Flip
Mesa com a fotógrafa Claudia Andujar e o líder ianomâmi Davi Kopenawa na Flip

Duração: uma hora e 15 minutos

Poderia ter durado: 15 minutos a mais, para compensar os 17 minutos de vídeo que tomaram tempo de conversa

O melhor: quando a conversa enveredou por um caminho político ficou mais interessante

O pior: o vídeo com fotos de Claudia Andujar, embora bonito, tomou tempo que seria melhor utilizado com conversa

Resumo: Em conversa mediada pela jornalista Eliane Brum, a fotógrafa Claudia Andujar e o xamã e líder ianomâmi Davi Kopenawa conversaram sobre a situação dos índios no Brasil. Quando chegaram nas questões políticas, de demarcação de terras indígenas, porém, a mesa teve de terminar.

Davi, que por sua atuação política está ameaçado de morte, contou o mito de seu povo sobre a queda do céu. Há centenas de anos, o céu caiu sobre as pessoas e matou todos os que viviam na Terra. Os ianomâmi tentam impedir que isso ocorra novamente.

"Nosso povo não é rico em dinheiro. Não temos avião ou carros. Mas somos ricos de conhecimento", disse ele. "Vocês pensam que a Terra é grande, mas não é. O trabalho que fazemos é para todos." A função do pajé, segundo ele, é entrar em contato com o espírito da Terra para que todos possam viver com saúde.

"A prioridade é a floresta, que é o pulmão do mundo. Nós estamos cuidando dela."

A conversa esquentou quando Davi afirmou que os não indígenas chegam derrubando suas árvores em Roraima e no Amazonas e matando o seu povo, que é muito menor em termos númericos. Ele pediu ajuda aos não indígenas para cobrar do governo federal que não lhes façam mal.

Claudia, que morou com os ianomâmi por "muitos anos", a partir de 1971, disse que se sentiu em casa com eles. "Certos humanos e países querem dominar os outros. Se isso acontecer, ocorrerá o que o mito ianomâmi diz. O céu vai cair e o mundo vai acabar."

Ela exibiu um vídeo de 17 minutos com algumas de suas imagens feitas durante o período com os ianomâmi.

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MESA 6: À MESA COM MICHAEL POLLAN

Danilo Verpa/Folhapress
O escritor norte-americano Michael Pollan teceu elogios à culinária brasileira
O escritor norte-americano Michael Pollan teceu elogios à culinária brasileira

Duração: 1h20

Auditório: cheio, público riu em vários momentos

Mediação: Lúcia Guimarães não pôde comparecer, o curador da Flip, Paulo Werneck, a substituiu

O que foi legal: Pollan é extrovertido e encheu a palestra de experiências pessoais, identificando-se com o público

MESA 5: O GURU DO MÉIER, COM CÁSSIO LOREDANO, CLAUDIUS E SÉRGIO AUGUSTO

Duração: 1h20

Poderia ter durado: Pelo menos uns 20 minutos mais. Público queria fazer mais perguntas

Pior: O microfone deixou de funcionar algumas vezes

Melhor: Convidados têm o dom de contar histórias saborosíssimas

Resumo: Uma divertida conversa entre amigos iniciou a programação da Flip nesta sábado (dia 1º/8). O jornalista Sérgio Augusto e os cartunistas Claudius e Cássio Loredano relembraram histórias saborosas de Millôr Fernandes, homenageado desta edição do evento. A mediação foi do jornalista Hugo Sukman.

"Minha relação com Millôr é antiga, começou antes mesmo de conhecê-lo. Na minha casa todos liam as revistas "Cruzeiro" e "Pif Paf". Os desenhos de Millôr foram um choque nos anos 1940, 1950. Era uma coisa inteiramente nova o que ele fazia", disse Claudius.

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CASA FOLHA: DESEJO, OBEDIÊNCIA E REBELDIA, COM CONTARDO CALLIGARIS E MEDIAÇÃO DE CRISTINA GRILLO

Duração: uma hora

Poderia ter durado: pelo menos uma meia hora a mais, a conversa estava boa e o público queria fazer mais perguntas

Lição: sexo é, definitivamente, um dos assuntos favoritos do público

O melhor: o carisma de Calligaris. De pé, para que o público todo pudesse vê-lo, fez piadas e interagiu com a plateia desde o início do bate-papo

O pior: poderia ter sido um pouco mais longo, o pessoal queria fazer mais perguntas

Resumo: O psicanalista Contardo Calligaris abriu a programação da Casa Folha nesta sexta-feira (1º), na 12ª edição da Flip, com um animado bate-papo sobre desejo, obediência e rebeldia.

Quem não chegou cedo, ficou de fora. Meia hora antes do evento começar, às 10h30, uma longa fila se formava às portas do local, para tentar entrar caso alguém saísse da casa lotada. O público presente ficou uma hora para conseguir ouvir a conversa entre o colunista da Folha e a jornalista Cristina Grillo.

Calligaris deu início ao papo com uma questão polêmica: a vida sexual dos filhos, na qual ele diz que é melhor não se intrometer. "A melhor coisa, em geral, é não fazer nada em relação a isso. Quando a gente faz um escândalo parece babaca. É péssimo. Ninguém merece um pai babaca."

O público começou a interagir com o convidado desde o começo, antes mesmo de o espaço para perguntas ser aberto oficialmente. Bem-humorado, Calligaris respondeu a tudo, levantando-se para que (quase) todos conseguissem vê-lo. "Os adolescentes hoje veem coisas que a minha geração só viu depois dos 20 anos num filme francês em branco e preto num projetor que quebrava a cada três minutos. E hoje eles ainda podem aumentar a tela!"

Para ele, é direito dos filhos esconder coisas dos pais. "Mentir é um direito da criança. Essa coisa de forçá-la a falar é tortura organizada."

O sexo, em suas palavras, não tem absolutamente nada de natural. "É um evento cultural. Quanto mais cultura você tiver, mais vai se divertir. Pensem nisso quando tiverem preguiça de ler", falou, provocando risos nos presentes. Os seres humanos são os únicos mamíferos para quem a excitação sexual independe dos sinais naturais de fecundidade. "As causas da excitação estão em nossa cabeça", disse.

Segundo Calligaris, o desejo das pessoas não tem uma essência e se desloca constantemente. Você quer uma cereja agora, exemplifica, mas talvez em cinco minutos queira algo diferente. "O capitalismo vive disso. Se houvesse um desejo fundamental ele acabaria."

Após algumas digressões –até a mudança do italiano Calligaris para o Brasil–, a conversa se encerrou no mesmo ponto em que começou: a vida sexual dos adolescentes. "Acho péssimo quando os jovens levam uma vida de casal na casa dos pais. É uma paródia. Tem adolescente que não sabe o que é transar no carro. É uma arte."

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MESA BÔNUS: PORQUE ERA ELE, PORQUE ERA EU, COM MATHIEU LINDON E SILVIANO SANTIAGO

Danilo Verpa/Folhapress
A partir da esq., o mediador Paulo Roberto Pires e os escritores Mathieu Lindon e Silviano Santiago
A partir da esq., o mediador Paulo Roberto Pires e os escritores Mathieu Lindon e Silviano Santiago

Duração: uma hora e dez minutos

Poderia ter durado: ao menos mais 20 minutos para permitir maior integração entre a atenta platéia e os entrevistados e mais perguntas

Lição: como de forma distinta as amizades influenciaram e marcaram definitivamente a história e a vida dos dois autores

O melhor: ao rememorar relações que marcaram suas vidas, os dois escritores entreleçaram, pelo afeto e pela admiração, uma belo e delicado perfil de personagens, que contribuíram, cada um a sua maneira, para desmistificar estigmas que, apesar dos tempos, continuam tão presentes

O pior: faltou interação entre os escritores

Resumo: da provinciana Belo Horizonte dos anos 1950 a Paris pós-1968, um debate sobre temas como amizade, sexo, drogas, Aids, amor gay, contracultura, calcado em lembranças de amizades

MESA 4: PARATY, VENEZA NO ATLÂNTICO SUL, COM PAULO MENDES DA ROCHA E FRANCESCO DEL CO

Danilo Verpa/Folhapress
O arquiteto Paulo Mendes da Rocha participa de debate na quinta-feira (31)
O arquiteto Paulo Mendes da Rocha participa de debate na quinta-feira (31)

Duração: 1h30
Estado do público: muito atento, mas com poucos aplausos. Havia vários arquitetos na plateia
Lição: O conceito de que cidades como Veneza e Paraty, construídas em áreas de alagamento, são "o impossível nascido da impossibilidade"
O pior: o início da palestra foi frio, muito conceitual, sem grande conexão com o público
O melhor: da metade para o fim, quando Mendes da Rocha e del Co contaram histórias que conectavam os conceitos arquitetônicos com o dia-a-dia
Resumo: A natureza não seria habitável sem a intervenção humana. Cidades são, então, o projeto dos desejos e das necessidades humanas. Veneza e Paraty foram construídas em terrenos difíceis para atender necessidades humanas —em ambas, o comércio.

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MESA 3: FABULAÇÃO E MISTÉRIO, COM ELEANOR CATTON E JOËL DICKER

Danilo Verpa/Folhapress
A neozelandesa Eleanor Catton e o suíço Joël Dicker em mesa do evento
A neozelandesa Eleanor Catton e o suíço Joël Dicker em mesa do evento

Duração: 1h15

Poderia ter durado: Uma meia hora mais. O público queria fazer mais perguntas.

A lição: Os autores mais quentes podem fazer mesa morna

O melhor: Algumas tiradas do mediador, José Luiz Passos, e de Joël Dicker

O pior: Debate ficou muito restrito aos aspectos estruturais dos livros

A terceira mesa da Flip reuniu dois dos "queridinhos" da festa literária em 2014. A neozelandesa Eleanor Catton e o suíço Joël Dicker têm muito em comum. Ambos são jovens (28 anos) e ganharam fama com livros que são verdadeiros calhamaços (beirando as 800 páginas). São também, como disse o mediador da mesa José Luiz Passos, "desavergonhadamente bem sucedidos".

Catton recebeu no ano passado o Man Booker Prize pelo romance "Os Luminares"; foi a escritora mais jovem a vencer a honraria, o principal prêmio literário dos Estados Unidos. Dicker encantou críticos e público em diversos países com "A Verdade sobre o Caso Harry Querbet".

Por tudo isso, a mesa dos dois era uma das mais aguardadas da Flip. Acabou decepcionado um pouco, por ficar demais concentrada na análise da estrutura dos romances. O mediador até brincou que estava parecendo mais uma aula de pós-gradução. Em outro momento, disse, aos risos, que o curador da Flip (Paulo Werneck) pedia mais sangue na mesa.

Os livros dos dois convidados possuem elaborada estrutura narrativa, mesclando mistério, alternância de tempo e de vozes narrativas.

O debate sobre isso consumiu grande parte da mesa.

Catton disse que seu livro, sobre a corrida do ouro em uma pequena cidade do século 19, baseou-se na astrologia.

"Eu formatei a narrativa em tornos de mapas estrelares. Cada personagem segue um arquétipo, segundo o movimento dos planetas a partir dos signos do zodíaco. Fiquei surpresa em descobrir como é matemático e o zodíaco."

Já Dicker comentou que o crime de seu livro, o assassinato de uma garota de 15 anos, é só um pano de fundo para mostrar a visão de mundo dos personagens.

"Não é sobre um crime, mas sobre como as pessoas enxergam a vida. Eu faço a estrutura de acordo com a verdade de cada um. Acontece que não há uma única verdade. Há a verdade de cada personagem."

Num dos pouco momentos mais descontraídos, Dicker contou ter ficado surpreso com a quantidade de pessoas no auditório.

"Não esperava essa multidão para nos ouvir —e não são meus pais ou meus parentes", disse, sob intenso aplauso do público.

Outro momento mais forte ocorreu quando Catton reconheceu que a tradutora francesa de seu livro apontou vários erros na trama. Um casaco, por exemplo, estava sem gola em uma página e com gola na página seguinte.

"A minha tradutora francesa é maravilhosa. Eu fico feliz com essas pequenas correções. As pessoas não leem ficção para buscar fatos, mas para buscar a verdade, o que é completamente diferente." O público também aplaudiu fortemente nesse momento.

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CASA FOLHA: HUMOR, POESIA, INFÂNCIA E AMIZADE, COM ANTONIO PRATA E TATI BERNARDI

Danilo Verpa/Folhapress
O escritor Antonio Prata, a mediadora Thais Bilenky e a autora Tati Bernardi na Casa Folha
O escritor Antonio Prata, a mediadora Thais Bilenky e a autora Tati Bernardi na Casa Folha

Duração: uma hora

Poderia ter durado: foi justo, não precisava nem de mais, nem de menos

A lição: não importa sobre o que você escrever, sempre vai ter alguém para criticar

O melhor: a camaradagem entre os convidados e a descontração da conversa

O pior: quem não chegou pelo menos meia hora antes do evento não conseguiu lugar para sentar

Resumo: Em conversa mediada pela jornalista da Folha Thais Bilenky, os colunistas do caderno "Cotidiano" Antonio Prata e Tati Bernardi conversaram sobre a criação de suas crônicas e contaram ao público de uma Casa Folha lotada como utilizam os fatos de suas vidas para falar de temas mais gerais.

"Considero a crônica sempre uma ficção. Mesmo quando escrevo sobre algo que aconteceu comigo é uma construção ficcional", disse Prata. "Mas escrevo muitos textos em primeira pessoa sobre coisas que não vivi", ressalta.

Bernardi contou que com ela ocorre o contrário. "Escrevo muito sobre coisas que aconteceram comigo e minto que foi com outra pessoa." Os fatos que mais a inspiram são aqueles que a irritam. "Minha terapeuta me disse na primeira sessão que eu não era uma escritora, e sim uma pessoa briguenta. Fiquei com tanto ódio que estou com ela há oito anos só para provar que ela estava errada", brincou.

Em clima de descontração, a dupla comentou algumas de suas crônicas mais populares. Bernardi diz que após escrever sobre parto humanizado em uma coluna, recebeu durante dez dias "pelo menos umas cinco fotos de vagina diariamente". Ela disse que as pessoas não entendem seu humor mais agressivo e costumam escrever para xingá-la.

Prata também recebe sua cota de xingamentos, conta, mas não se incomoda. "Já me acusaram de falar muito sobre mim. Mas quando falo do meu casamento, falo de casamentos em geral. O cronista usa a si mesmo para falar da vida."

Sobre uma de suas crônicas mais polêmicas, "Guinada à Direita", publicada na Folha em novembro do ano passado, na qual dizia ironicamente ter virado de direita, Prata disse que não se incomodou com as críticas, e sim com quem disse que o apoiava. "Meu medo era que as pessoas quisessem começar a queimar gente", disse.

Bernardi se disse resignada com o fato de que não dá para agradar todo o mundo. "Comecei a fazer textos autoirônicos achando que estava segura. Teve gente que me escreveu dizendo que se achava parecido comigo e que se sentiu ofendido. E começaram a me xingar. Não tem saída."

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MESA 2: OS POSSESSOS, COM ELIF BATUMAN E VLADÍMIR SORÓKIN

Raquel Cunha/Folhapress
O escritor russo Vladimir Sorókin participa da mesa Os Possessos
O escritor russo Vladimir Sorókin participa da mesa Os Possessos

Duração: 1h

Poderia ter durado: 1h30, não houve desenvolvimento suficiente dos temas imensos abordados: Dostoiévki, política, Ucrânia

Estado do público: morno

Lição: é preciso ler os clássicos

O pior: houve problemas com o sistema de áudio

O melhor: o visual e o estilo blasé de Sorókin

Resumo:

Totalmente vestido de branco, que combinava com seu cavanhaque, bigode e cabelo, o russo Vladimir Sorókin explicou sua condição de dissidente.

"No Estado totalitário, não existem opositores, mas dissidentes, é o que está acontecendo na Rússia destes dias."

O autor de "Dostoiévski Trip" dividiu a mesa com a norte-americana de origem turca Elif Batuman, autora do livro "Os Possessos".

Sorókin recordou como era escrever durante a Rússia soviética ("escrevíamos e guardávamos na gaveta"), acrescentando que, nos dias de hoje, o que une os autores do underground é o fato de querer uma "Rússia democrática".

O escritor reforçou, porém, que não gosta da literatura que deixa a política imiscuir se sem razão de ser, caso da literatura soviética. "Foi um buraco negro na história da literatura russa. Foi interessante como fenômeno. Hoje não dá para ler sem rir".

Perguntado sobre o líder Vladimir Putin, o autor disse que "ele irá passar. O romance fica".

Sorókin também fez críticas a um dos mais importantes nomes da literatura russa, Fiódor Dostoiévski (1821 1881). "Ele escrevia muito rápido, às vezes nem revisava. Nabokov, por exemplo, não gostava de Dostoiévski".

Já Batuman disse que via um vínculo entre Sorókin e Dostoiévski, "ele era estranho, e isso compõe perfeitamente com a escrita louca de Sorókin".

Ambos discutiram o humor na literatura russa. Batuman disse que ele é muito mais presente na literatura russa do que se imagina. "As pessoas têm ideia da literatura russa como muito trágica, mas isso é injusto, a verdade é que muito se perde na tradução."

Sorókin, por sua vez, afirmou que o humor, assim como a vodka, são necessários para enfrentar a severidade russa. Porém, acrescentou que o humor russo é diferente do francês ou do inglês, porque os russos fazem piadas como se fossem "a última".

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MESA 1 : POESIA & PROSA, COM ELIANE BRUM, CHARLES PEIXOTO E GREGORIO DUVIVIER

Raquel Cunha/Folhapress
Eliane Brum e Gregorio Duvivier falam sobre Poesia e Prosa na primeira mesa da Flip
Eliane Brum e Gregorio Duvivier falam sobre Poesia e Prosa na primeira mesa da Flip

Duração: Uma hora e 15 minutos

Poderia ter durado: Cerca de 15 minutos a mais, para que o público pudesse fazer mais perguntas

Lição: Há mais semelhanças entre humor e poesia do que parece

O melhor: A leitura de textos bem-humorados de Gregorio Duvivier e Charles Peixoto pelos próprios, que rendeu muitas risadas do público

O pior: Só deu tempo de o público fazer uma pergunta

Resumo: A primeira mesa da Flip, realizada nesta quinta-feira (31), reuniu a jornalista Eliane Brum, o humorista Gregorio Duvivier e o poeta Charles Peixoto, "três autores de gerações diferentes, de atividades diferentes, mas que têm em comum a dificuldade de serem encaixados num rótulo estreito", nas palavras do mediador Miguel Conde.

Os três falaram, em pouco mais de uma hora, sobre suas relações com a poesia. Eliane abriu a apresentação lendo um texto preparado por ela. A jornalista contou que, quando começou suas andanças como repórter, viu como as pessoas faziam literatura pela boca. "Aprendi poesia com analfabetos, na forma de prosa", disse, dando um exemplo em seguida. "Para uma reportagem, falei com Dorica, uma parteira indígena. Perguntei a ela o que ela fazia e ela me respondeu: 'A parteira é chamada a povoar o mundo nas horas mortas da noite'."

"Há certas realidades que só a ficção suporta", afirmou. "As palavras são insuficientes para dar conta da vida. Essa é a tragédia e a graça dessa busca condenada ao fracasso, mas de uma beleza tão pungente."

Mais coloquial, Duvivier falou em seguida. "É meio humilhante vir depois da Eliane. Ela está salvando o mundo, ajudando todas as minorias do planeta, e eu tenho um canal de humor no YouTube. É uma vergonha", brincou, arrancando risos dos presentes.

Duvivier discorreu sobre a poesia de Millôr Fernandes, homenageado desta 12ª edição da Flip. "A poesia dele tem muito humor e o humor dele tem muita poesia. É por isso que sou fanático por ele", disse. "É impressionante como a obra dele é atual. E isso tem muito a ver com a poesia e com a humanidade que há no humor dele."

Para ele, o humor de hoje perdeu o afeto. "As pessoas confundem a liberdade com a galhofa e a falta de educação", afirmou. "Fazer humor e poesia é a mesma coisa: jogar um olhar não viciado sobre um assunto amplamente debatido sobre o qual as pessoas têm mil preconceitos."

Peixoto foi breve em seu discurso de abertura. "Estar nesta Flip é um reconhecimento, porque os críticos diziam que o que eu fazia era 'lixeratura'."

Ao ser questionado por Conde se faz poemas com o que ama e piada com que odeia, Duvivier brincou. "Eu gostaria muito de fazer poesias sobre a polícia militar, mas ela não permite." Depois, fala mais sério. "Pode não parecer, mas tento colocar afeto no humor. No Porta dos Fundos não fazemos críticas nominais, porque vira agressão."

Os três autores presentes leram ao público trechos de suas obras. Duvivier leu dois poemas de "Ligue os Pontos" (Companhia das Letras) e dois textos de "Put Some Farofa", que sai em novembro pela mesma editora. Ele levou o público às gargalhadas com a leitura de duas de suas colunas na Folha: "Pardon Anything" e "Xingamento".

Nos últimos cinco minutos, Conde abriu espaço para perguntas do público. Só houve tempo para uma questão, sobre a importância do descontrole para um escritor.

Duvivier respondeu que, para ele, a lucidez é fundamental na hora da escrita. "Mesmo que para chegar a essa lucidez você tenha que usar psicotrópicos."

Peixoto encerrou a mesa dizendo que ouve vozes independente de estar ou não sob efeito de drogas, e que incorpora isso em sua obra.

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CASA FOLHA: SEXUALIDADE, FELICIDADE E AUTOEXÍLIO, COM SILVIANO SANTIAGO E ALEXANDRE VIDAL PORTO

Raquel Cunha/Folhapress
O autor Silviano Santiago participa da Flip, na Casa Folha
O autor Silviano Santiago participa da Flip, na Casa Folha

Duração: Uma hora

Poderia ter durado: Pelo menos mais meia hora

Lição: É sempre interessante encontrar pontos em comum entre livros aparentemente nada parecidos

O pior: Conversas paralelas do público no começo do debate dificultava ouvir os palestrantes

O melhor: A sinceridade e bom-humor dos autores

Resumo: Alexandre Vidal Porto e Silviano Santiago abriram na manhã desta quinta (31) a programação da Casa Folha com a palestra "Sexualidade, Felicidade e Autoexílio". Vidal Porto publicou neste ano "Sérgio Y Vai à América", jornada de um jovem paulistano que vai morar em Nova York para mudar radicalmente de vida.

Já Santiago, que também participa da programação oficial da Flip, falou do recém-lançado "Mil Rosas Roubadas", no qual mescla realidade e ficção para comentar sua longa amizade com o produtor musical Ezequiel Neves (1935-2010).

Ambos começaram o debate comentando a importância da morte em seus livros.

"Meu livro é sobre o momento em que você se dá conta de que perdeu a pessoa que foi tudo em sua vida. Meu narrador começa a escrever a biografia do amigo e começa a escrever a próprio biografia. É uma tentativa de rememoração", disse Santiago.

No livro de Vidal Porto, um psiquiatra, na casa dos 70 anos, também reavalia sua trajetória ao lidar com a morte de um ex-paciente.

Outro traço, desta vez biográfico, une os autores: ambos passaram longos períodos em Nova York. Vidal Porto, que também é diplomata e colunista da Folha, conta que seu livro é um tributo a Nova York, onde assumiu que era gay.

"A diplomacia é uma profissão de autoexílio. Vive longe da família, você não pode ir ao aniversário do sobrinho. Você corta na carne essa relação familiar. E o que você ganha com isso? Às vezes, o autoexílio é uma estratégia de sobrevivência, de você viver sua vida do jeito que quer. Em todo serviço diplomático do mundo você encontra uma comunidade homossexual respeitável", afirmou.

"Quando eu era criança, o símbolo do gay era o cabelereiro da minha mãe. Mas eu não queria ser isso. Ser diplomata dá uma certa respeitabilidade. Nos dois dias por ano em que você se encontra com a família, é só segurar a onda", completou, sob fortes aplausos do público.

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SESSÃO DE ABERTURA DA FLIP 2014

Danilo Verpa/Folhapress
O crítico literário Agnaldo Farias
O crítico literário Agnaldo Farias

Duração: Uma hora e meia (45 minutos de conferência de Agnaldo Farias e 45 minutos de conversa entre Jaguar, Hubert e Reinaldo)

Poderia ter durado: O papo entre Jaguar e os humoristas Hubert e Reinaldo renderia mais e poderia ter durado uma hora tranquilamente

Lição: Cartuns são sucesso de público

O pior: Jaguar é bom contador de casos, tanto que deixou Hubert e Reinaldo por vezes um pouco calados. Os próprios organizadores da Flip comentaram que a dupla poderia ter mediado mais a conversa
O melhor: As frases de Jaguar, que tiraram boas risadas da plateia

Resumo: Agnaldo Farias abriu a Flip falando sobre o Millôr Fernandes artista plástico, menos conhecido que o Millôr pensador. Enquanto apresentava desenhos, pinturas e colagens do artista, analisava suas principais características. Após exibir uma obra de Millôr, comparava-a com um trabalho de outro artista, como Jackson Pollock, apontando as semelhanças entre os dois. "Millôr transitava de Picasso ao desenho mais elementar", afirmou Farias. Em seguida, os humoristas Hubert e Reinaldo, do "Casseta & Planeta", iniciaram um bate-papo com Jaguar. "Comecei a ler Millôr na época em que as pessoas leem 'Harry Potter'. Se eu não tivesse tido Millôr na minha vida, não estaria aqui agora", afirmou Reinaldo. Quem dominou a conversa foi Jaguar, que fez o público rir com seus casos. Próximo do fim, ele perguntou: "Quanto tempo falta para terminar?". "Dez minutos", respondeu Hubert. "Tudo isso?", brincou Jaguar. O público queria mais


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