Folha de S. Paulo


Saiba mais sobre Millôr Fernandes, o homenageado da Flip 2014

O homenageado da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano é o desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, tradutor e jornalista Millôr Fernandes (1923-2012). Isso significa que, como acontece tradicionalmente com quem é o escolhido da vez, o artista será celebrado em palestras e debates e será o protagonista da primeira noite da feira.

A conferência inaugural será realizada pelo crítico de arte Agnaldo Farias, que promete falar um pouco sobre a produção gráfica de Millôr, "um dos grandes artistas plásticos do Brasil", segundo ele.

Depois disso, a Tenda dos Autores, principal espaço da Flip, será palco de uma conversa entre o cartunista Jaguar e os humoristas do "Casseta & Planeta" Reinaldo e Hubert. Eles também falarão sobre Millôr.

Desde 2003, a Flip já homenageou Vinicius de Moraes, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Machado de Assis, Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Oswald de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e Graciliano Ramos.

Conheça um pouco mais sobre a vida e a obra de Millôr Fernandes abaixo.

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Nascido no bairro do Méier, no Rio, Millôr nasceu Milton Fernandes em 23 de agosto de 1923, mas foi registrado em 27 de maio de 1924. Anos mais tarde, ao ler sua certidão de nascimento percebeu que o "T" se assemelhava a um "L" e o "N", inconcluso, parecia um "R", sugerindo a grafia Millôr em vez de Milton. Assumiu-se, então, Millôr.

Millôr ficou órfão ainda criança. Seu pai morreu de intoxicação quando ele era bebê e a mãe, vítima de câncer, quando ele tinha apenas 10 anos.

Em 1938, aos 14, Millôr entrou no Liceu de Artes e Ofícios e começou a trabalhar profissionalmente na revista "O Cruzeiro". Naquele momento, se tornaria um dos principais nomes do jornalismo e das artes no Brasil. Registros constatam que, no período em que ele ficou no veículo, as vendas tiveram grande melhoria.

Foi também um dos criadores da revista "Pif-Paf". Apesar de ter durado apenas oito edições, considera-se que a publicação deu início à imprensa alternativa no Brasil. Ele foi ainda um dos colaboradores de "O Pasquim", reconhecido por seu papel de oposição ao regime militar.

Com diversas aptidões —para o desenho, a prosa, a poesia, o teatro, a literatura e a tradução—, raramente se sentia frustrado. Foi premiado como desenhista (dividiu com seu ídolo Saul Steinberg [1914-1999] o primeiro lugar na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, em 1955) e requisitado como tradutor (de Shakespeare, Molière, Sófocles, Bernard Shaw, entre outros).

Também escreveu peças célebres como "Liberdade, Liberdade" (1965), em parceria com Flávio Rangel, e que se tornou uma das obras pioneiras do teatro de resistência ao regime militar. A montagem foi encenada pelo Grupo Opinião, com Paulo Autran e Tereza Rachel no elenco.

Millôr Fernandes publicou mais de 50 livros a partir de 1946, boa parte compilando textos humorísticos e desenhos feitos para a imprensa. Entre eles, destacam-se "Fábulas Fabulosas" (1964) e "A Verdadeira História do Paraíso" (1972).

Entre os múltiplos talentos de Millôr também estava o de roteirista. Foram mais de dez roteiros criados para o cinema, individualmente —"Modelo 19" (1952, mais conhecido como "O Amanhã Será Melhor"); "Amor para Três" (1960), "Ladrão em Noite de Chuva" (1960); "Esse Rio que Eu Amo" (1962), "Crônica da Cidade Amada" (1965), "O Menino e o Vento" (1967) e "Últimos Diálogos" (1995)— ou em parceria, como "O Judeu" (1995), com Geraldo Carneiro e Gilvan Pereira, e "Mátria" (1998), com Carneiro e Jom Tob Azulay.

Em "Terra Estrangeira" (1995), dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas, participou com diálogos adicionais.

JORNALISMO

Seu humor crítico e inclemente lhe traria problemas também com governantes, desde o presidente Juscelino Kubitschek (que censurou seu programa "Treze Lições de um Ignorante", na TV Tupi Rio, após uma piada com a primeira-dama) até os militares que atacaram "O Pasquim" —jornal que ele ajudou a criar— durante a ditadura.

Na Folha, Millôr Fernandes assinou uma coluna semanal, no caderno dominical "Mais!", entre julho de 2000 e agosto de 2001.

Foi neste período que escreveu texto que lhe rendeu processo do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), após dizer que seu projeto de restringir termos estrangeiros na língua portuguesa era "uma idioletice".


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