Folha de S. Paulo


'Lepo Lepo' de raiz marca encerramento do festival PercPan

Os chinelos de dedo e as saias brancas rodadas das baianas se encontraram para gingar ao lado de coturnos pretos e calça jeans skinny no palco do 20º festival PercPan (Panorama Percussivo Mundial), em Salvador, na noite deste domingo (27).

Com botas e boné à la estrela do hip-hop, Márcio Victor, vocalista da banda Psirico —célebre pelo hit "Lepo Lepo"—, sambou cercado de cinco senhoras em trajes típicos. Da plateia, que lotou a praça da Cruz Caída, no Pelourinho, vinham gritos assanhados das fãs.

Para guiar a dança, o grupo tradicional Samba Chula de São Braz surpreendeu o público —e até o próprio Márcio, segundo contou depois do show— com uma versão de samba de roda da canção sobre o sujeito que não tem carro nem teto para impressionar as moças.

Marcos Hermes/Divulgação
O cantor Márcio Victor, de vermelho, com o grupo Samba Chula de São Braz no festival PercPan
O cantor Márcio Victor, de vermelho, com o grupo Samba Chula de São Braz no festival PercPan

Após a brincadeira, um dos pontos altos da noite, a exaltação do samba de raiz do Recôncavo Baiano veio com clássicos como "Marinheiro Só", acompanhados em coro pela multidão —ao ar livre e gratuito pela primeira vez, o evento reuniu, ao todo, em três noites, cerca de 11 mil pessoas, segundo a organização.

A tradição, no entanto, dali a pouco, já seria quebrada com a entrada de Mikael Mutti, líder do grupo baiano Percussivo Mundo Novo, que assumiu depois o palco para mostrar um samba reggae experimental, cheio de sintetizadores.

Improvisando um duelo de percussão com Márcio Victor no timbal, Mutti tocou apertando os botões de um controle remoto do videogame Wii para que os sons saíssem, correndo atrás das batidas do instrumento presente.

Foi assim, mostrando fusões e tensões entre tradição e modernidade, que a programação do último dia de festival se desenhou. Antes, na sexta, já havia sido destacada a percussão vocal e corporal e, no sábado, a atuação feminina na percussão.

Neste domingo, abrindo a noite, houve ainda uma apresentação poderosa do grupo Aguidavi do Jeje, honrando a polirritmia das batucadas dos terreiros de candomblé, e uma amostra da cena de rap do Nordeste.

O percussionista baiano Gabi Guedes se uniu ao DJ Cia, de São Paulo, para receber Opanijé, Nelson Maca, Simples Rap'ortagem (estes da Bahia), Preto Nando (Maranhão), Zé Brown (Pernambuco) e Kalyne Lima (Paraíba).

Seguindo no hip-hop, Marcelo D2 encerrou a festa para uma plateia animada, predominantemente jovem. Com um show longo, de uma hora e meia, segurou o público debaixo de pancadas de chuva com sucessos do seu disco mais recente, "Nada Pode Me Parar", e de "À Procura da Batida Perfeita" (2003).

Guardada para a metade final da apresentação, a improvisação vocal de Fernandinho Beat Box motivou a entrada de sambas clássicos como "Malandragem Dá um Tempo" e "Maneiras". No clima, foi puxada ainda "Mantenha o Respeito", sucesso do Planet Hemp.

A jornalista GIULIANA DE TOLEDO viajou a convite da produção do festival

Marcos Hermes/Divulgação
Marcelo D2 durante show na 20ª edição do festival PercPan, no Pelourinho, em Salvador
Marcelo D2 durante show na 20ª edição do festival PercPan, no Pelourinho, em Salvador

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