Folha de S. Paulo


Batalha do passinho empolga o público em festival de Nova York

Ao lado da sede da companhia de Balé de Nova York, no Lincoln Center, onde se apresenta nesta temporada o celebrado grupo russo Bolshoi, 12 jovens de favelas do Rio subiram ao palco para serem aclamados com sua dança.

Em apresentação na quinta (24), durante o festival Lincoln Center Out of Doors, o ritmo brasileiro do "passinho" extrapolou o palco e contagiou o público, que tentava reproduzir seus movimentos que mesclam estilos como break, frevo, kuduro e samba.

"Há algo realmente intenso nesta dança. Ela mostra que esta geração está aberta a muitos estilos, do hip-hop até o flamenco", diz Rokafella, pioneira na cena do break americano. Ela foi jurada da Batalha do Passinho em NY.

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Para Julio Ludemir, diretor artístico do grupo Na Batalha, essa era a recepção que ele esperava para a estreia dos jovens nos EUA. "Isso não é um projeto social. A ideia é mostrar que eles são artistas, que produzem suas coreografias, e que devem ser reconhecidos por isso", defende.

"Se essa apresentação ficar no campo do 'exótico' [para os americanos] terá sido um equívoco", completa.

Apesar da responsabilidade de se apresentar no principal polo cultural de Nova York, os jovens estavam à vontade. Eles desafiaram e vibraram com as apresentações dos colegas, brincaram no palco e dançaram com o público.

"Eu dançaria até de graça, porque isso pode gerar uma oportunidade", diz Jackson Fantástico, 21. O grupo recebeu cachê de US$ 7.000 (cerca de R$ 15.600), que será dividido entre os dançarinos e a equipe. As passagens foram patrocinadas pela Secretaria de Cultura do Rio.

SUSTO

Com uma bolsa de gelo sobre o pé direito pouco antes da apresentação, Jackson –vencedor da primeira "batalha", em 2011– não conseguia aceitar que ficaria de fora de seu primeiro show no exterior por conta de uma lesão ocorrida no dia anterior.

"Não queria dançar cinco minutos e sair mancando do palco. Mas eu já tomei três remédios, talvez melhore a tempo", disse. Uma hora depois, ele estaria no palco, na frente dos colegas, dançando.

Jackson, que conhecia a Nova York dos filmes "King Kong" e "Homem-Aranha", disse ter sonhado com a cidade desde que soube que viajaria. Para a maioria dos jovens que estava com ele, esta foi a primeira viagem internacional. Parte do grupo se apresentou no final da Paraolimpíada de Londres, em 2012.

"Já tinha procurado as fotos no Google, mas quando cheguei naquele lugar com todas aquelas telas, pensei: 'Tá doido! Cara, isso é muito bonito'", contou, ainda encantado com a Times Square.

O grupo realizou duas oficinas de passinho na cidade. A primeira delas para um grupo de 40 crianças carentes.

"As crianças se apaixonaram pela dança, seus olhos estavam vidrados", conta o americano Bill Bragin, diretor de programação do festival.

Na "batalha" do Lincoln Center, venceu a única garota do grupo, Marcelly Miss Passista. Ao contrário da disputa no Rio, na qual o vencedor pode levar até R$ 20 mil, em Nova York, o prêmio era apenas "prestígio".

"E poder tirar muita onda", brinca Ludemir.


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