Folha de S. Paulo


Autor francês narra loucuras da sua juventude ao lado de Foucault

O escritor francês Michel Lindon, convidado da Flip deste ano, lança no Brasil livro autobiográfico sobre sua relação com Michel Foucault, uma amizade entrecortada pelo uso constante de drogas.

Apresentado ao intelectual quando tinha 23 anos, Foucault (1926-84) passa a emprestar-lhe seu apartamento em Paris quando viaja, e ali amigos se reúnem para usar LSD.

Em "O que Amar Quer Dizer", o escritor de 58 anos parte dessa fase de sua vida para falar de amizade, homossexualidade e de sua relação com o pai, o editor Jerôme Lindon, da Éditions de Minuit.

S. Veyrié/Creative Commons
O escritor francês Mathieu Lindon, autor de 'O que Amar Quer Dizer
O escritor francês Mathieu Lindon, autor de 'O que Amar Quer Dizer'

O livro, publicado em 2011 na França e vencedor do prêmio Médicis, tem como tema "as relações de amor entre amigos, entre amantes, num sentido amplo", diz o autor em entrevista por telefone à Folha. "As relações mudam e eu mudo de opinião, mas essas relações são mais importantes do que minha opinião sobre elas", diz.

Livro
O Que Amar Quer Dizer
Mathieu Lindon
O que Amar Quer Dizer
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Lindon afirma que, embora os leitores possam ter uma imagem idílica das drogas, já que inclui longas descrições de seus efeitos, ele não quer ser um defensor do uso. "Em alguns momentos da vida a droga me fez bem e, em outros, ela me fez muito mal."

Em seu livro mais recente, "Une Vie Pornographique" (Uma vida pornográfica), publicado na França em 2013, o protagonista é um viciado em heroína.

Entre os personagens de "O que Amar..." abundam homens, embora seja uma garota a responsável por dar início a tudo. "É um livro masculino, que tem a ver com a homossexualidade masculina", diz, "mas muitas leitoras me procuraram, o porquê eu não sei, meu universo é masculino".

Em junho passado, a morte de Foucault, em decorrência da Aids, completou 30 anos, e Lindon diz ter constatado que, ao menos nos jornais franceses, o filósofo foi mais lembrado do que há dez anos. "Parece que ele cresceu aos olhos da mídia nos últimos anos", afirma.

"Telefonei a Daniel Defert [companheiro de Foucault], como faço todos os 25 de junho, nada especial", comenta sobre a data.

Em 1987, um de seus romances, "Prince et Léonardours", quase foi proibido, o que não ocorreu graças a reações de intelectuais. O livro conta, de maneira violenta, a história de um casal de homens que, durante uma guerra, sofre torturas e estupros.

Em 1999, Lindon foi processado por difamação pelo político Jean-Marie Le Pen por causa de seu livro de ficção "Le Procès de Jean-Marie Le Pen". No romance, um advogado judeu tenta incriminar o então presidente do partido conservador Frente Nacional por um assassinato motivado por racismo.

"Que as pessoas possam processar as outras numa democracia me parece lógico, mas é estranho que Le Pen tenha ganhado, quando devia ter perdido", diz ele sobre o caso. "É perigoso quando os juízes são críticos literários."

"O que Amar...", por sua vez, é autobiográfico e trata de personagens reais usando seus verdadeiros nomes. "Eu sou favorável ao respeito à vida privada, mas sou contra a censura", afirma o autor.

O QUE AMAR QUER DIZER
AUTOR Mathieu Lindon
TRADUTOR Marília Garcia
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 39 (288 págs.)


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