Folha de S. Paulo


'Ele já faz parte do panteão brasileiro', diz Nélida Piñon sobre Ubaldo

O escritor baiano João Ubaldo Ribeiro morreu aos 73 anos no início da manhã desta sexta (18), vítima de uma embolia pulmonar, em sua residência no Leblon, zona sul do Rio.

O corpo será velado na sede da ABL, no centro do Rio, a partir das 10h. Pela tradição, membros da Academia Brasileira de Letras são velados na sede da ABL e enterrados no mausoléu da entidade, no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul da cidade.

O ator e comediante Bento Ribeiro, filho do escritor, agradeceu no Twitter as mensagens de apoio que recebeu.

"Obrigado a todos pelas mensagens. Tchau meu pai. Foi cedo, vai fazer muita falta", escreveu.

Amigos também lamentaram a morte repentina do jornalista baiano. "Só consigo lembrar histórias boas dele. Não tem nenhuma história triste", disse à Folha o escritor Mario Prata, lembrando de situações de quando os dois trabalharam juntos na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos.

Durante um churrasco dos jornalistas, conta Prata, Ubaldo foi fumar escondido atrás de uma árvore, contrariando recomendações médicas. Quando Prata lhe perguntou de quem se escondia, respondeu: "De mim, mesmo..."

"Anos depois contei isso para ele, mas ele não se lembrava."

Veja a repercussão de sua morte:

"A literatura brasileira perde um grande nome com a morte de João Ubaldo Ribeiro. Neste momento de dor, presto minha solidariedade aos familiares, amigos e leitores", DILMA ROUSSEFF, presidente da República, em nota oficial.

"Eu pensei muito nele ontem, porque a gente cobriu a Copa do Mundo de 1994 para o 'Estadão' juntos, e ontem passou na TV um programa sobre a Copa... É difícil falar sem cair daqueles lugares comuns. [...] Estou vendo 'Viva o Povo Brasileiro' aqui na estante, vou reler", MARIO PRATA, escritor, à Folha.

"Deixa uma grande obra, mas não é consolo porque ele tinha muito ainda a dar. João Ubaldo sem dúvida é um cronista da cidade, do país, com sua ironia, sua independência. É capaz de criticar o poder brasileiro sem o temor de agradar ou desagradar, mas eu gostaria de enfatizar o escritor, o criador, o homem de uma imaginação efervescente que passou sua vida fundamentalmente a fazer obras de criação. Ele já faz parte do panteão brasileiro. Sempre com muito humor, era muito engraçado porque ele tinha uma voz um pouco assim de barítono.. e ele era um 'rabelais moderno'", NÉLIDA PIÑON, escritora da Academia Brasileira de Letras, à Folha.

Editoria de Arte/Folhapress

"Quando ele estreou, numa antologia, eu fiz o prefácio. Num dos últimos livros dele, ele me fez uma dedicatória em que disse que foi ali que decidiu ser escritor. Daí em diante tivemos uma relação muito próxima, eu votei nele para a ABL e ele me convidou para fazer o discurso de recepção dele. Admirava a obra dele, tinha consistência, ultrapassava os limites do regionalismo convencional, ele tinha uma visão mais aberta do mundo, tocava numa série de problemas. Respeitava a identidade nacional, mas também a diferença nacional, tinha essa capacidade de se equilibrar em zonas de fronteira, que podiam ser material ou espiritual", EDUARDO PORTELLA, escritor da Academia Brasileira de Letras.

"Era um homem de muito bom humor, alegre, brincalhão e deixa uma obra extraordinária. Eu louvo muito a natureza circular da obra dele. Ele pegava o povo brasileiro e dali fazia uma tipologia da história com uma qualidade literária extraordinária. A fonte de inspiração dele era o povo brasileiro, lá de Itaparica. Tudo bem estruturado e bem exposto, com graça literária. De circular ele terminou na viagem vertical, que nós os viventes fazemos, a viagem sem volta. Ele que gostava tanto de viajar", MARCOS VILAÇA, jornalista e escritor, à Folha.

"Ano passado fui curador da Bienal do Livro de Salvador e convidei o João Ubaldo pra fazer a mesa de encerramento. Tivemos que botá-lo em uma sala maior [para a mesa]. A sala lotou e do lado de fora tinha uma fila com mais gente do que tinha dentro. Foi muito bonito ver o carinho das pessoas. Ele ficou meia a hora a mais autografando, e as pessoas na fila eram jovens! Não eram senhorias carregando o livro, eram adolescentes. E você sabe como isso é valioso em um país como o nosso. Para mim ficou muito esta imagem marcada", J. P. CUENCA, escritor, à Folha.

"Além de amigo querido, sempre gentil, carinhoso e divertido, um de meus escritores favoritos. 'Viva o Povo Brasileiro' e 'Sargento Getúlio' são clássicos indiscutíveis e 'A Casa dos Budas Ditosos' é um dos romances mais safados e engraçados que já li. Ubaldo tinha estilo, imaginação e cultura, um legitimo sucessor de Jorge Amado, um grande intérprete da nossa, para o bem e para o mal, brasilidade", NELSON MOTTA, escritor e jornalista, à Folha

"Nós éramos amigos, tinha muito afeto por ele, foi uma coisa surpreendente. Foi uma notícia chocante. O João Ubaldo era sem dúvida um dos escritores mais significativos, mais presentes da literatura brasileira, o que se justifica pela natureza de sua obra, de alta qualidade. Ele era também um escritor popular. Sua literatura era elaborada, mas também fluente, espontânea, e de fácil comunicação", FERREIRA GULLAR, cronista, crítico de arte e poeta, à Folha

"Perdemos um escritor magnífico, reconhecido no mundo inteiro, e um pensador, alguém que refletia sobre o Brasil. Eu, particularmente, perco um grande amigo. Há três coisas que sempre vou guardar dele: o contador de histórias incrível que era; o seu humor, com aquela risada que contagiava todo mundo; e sua generosidade comigo, não só ao me dar o livro para filmar como pelo apoio que me deu em relação ao filme", HERMANO PENNA, cineasta, à Folha

"Fui acordado às 8h com o telefonema de uma rádio me dando a notícia. Foi um choque, continuo chocado, estou saindo do velório. Foi o dia todo envolvido com isso, com os amigos, jornalistas, acadêmicos. Foi surpreendente isso, eu o vi outro dia, estava inteirão. É uma grande perda, o texto dele é muito forte. Ele era um dos integrantes da geração a que eu pertenço, uma geração muito forte, em que cada um trouxe sua marca de origem e ele tinha sua marca de Itaparicano. Se o Brasil começou pela Bahia, ele fez com o que Brasil começasse por Itaparica. Sempre fui leitor dele. Gosto muito do romance dele O Albatroz Azul, é uma pintura, uma plasticidade da luz de Itaparica, trata de vida, morte e renascimento."
ANTÔNIO TORRES, escritor da Academia Brasileira de Letras à Folha

"É uma grande perda para a Academia, para o romance e o jornalismo nacionais. João Ubaldo Ribeiro deixa uma obra de excelência. Estamos todos muito chocados com a notícia", GERADO HOLANDA CAVALCANTI, presidente da ABL, em nota oficial.

"'Já cheguei à altura da vida em que tudo de bom era no meu tempo' viva escritor e amigo João Ubaldo Ribeiro (1941- 18/7/2014)", PAULO COELHO, escritor, no Twitter.

"Acordei com a notícia da "partida" de mais um amigo querido. Estou triste, João Ubaldo Ribeiro partiu nesta madrugada... Millôr deve estar esperando por ele e à nós resta a dor, a lembrança e a a saudade #luto", FAFÁ DE BELÉM, cantora, no Instagram.

"Marinho Chagas,João Ubaldo Ribeiro e Milton Neves, em Nata. Infelizmente 2 craques foram para o céu em 2014", MILTON NEVES, jornalista, no Twitter.

Reprodução/Twitter/Miltonneves
Foto publicada por Milton Neves no Twitter
Foto publicada por Milton Neves no Twitter

"A obra deixada por João Ubaldo Ribeiro nos auxilia, neste momento, a superar a dor pela sua perda. Imortal das academias de letras do Brasil e da Bahia, irônico e bem-humorado, soube como poucos desvendar as entranhas da epopeia brasileira. Sua crítica social muitas vezes incomodava, porém também apontava caminhos. Ubaldo é leitura essencial para quem quiser contribuir para a construção de uma sociedade melhor. Minhas condolências aos familiares e amigos", JAQUES WAGNER, governador da Bahia, em nota oficial.

"O Rio de Janeiro perde um carioca de coração. João Ubaldo adotou a cidade –e o Leblon– para viver e nos presenteou com seus romances e crônicas. Os livros 'Sargento Getúlio' e 'Viva o povo brasileiro' são referências literárias e constam na lista dos cem melhores romances brasileiros. João Ubaldo deixará saudade. É uma perda para a literatura brasileira", EDUARDO PAES, prefeito do Rio de Janeiro, em nota oficial.

"Morreu João Ubaldo Ribeiro, o homem. O escritor João Ubaldo Ribeiro está vivo e assim permanecerá; não morreu nem morrerá, posto que é imortal. E se as pessoas amadas não cessam de morrer quando morrem seus corpos, uma vez que as lembranças e o amor lhes ressuscita, imagine alguém que se transforma em histórias escritas?", JEAN WYLLYS, deputado federal (PSOL - RJ), no Facebook.

"A CBL teve a honra de reconhecer o talento de João Ubaldo, por meio do Prêmio Jabuti, em duas ocasiões. A primeira, em 1972, quando o escritor ganhou o prêmio de melhor autor revelação com o romance Sargento Getúlio, e em 1985, foi condecorado na categoria Melhor Romance do Ano, com a obra Viva o Povo Brasileiro. O setor editorial perde, neste dia, um dos grandes romancistas e cronistas da atualidade, membro da Academia Brasileira de Letras. Mas suas obras sempre permanecerão vivas na memória dos brasileiros. Descanse em paz, Ubaldo!", KARINE PANSA, presidente da Câmara Brasileira do Livro, em comunicado oficial.

"Perdemos um grande romancista, um cronista singular, um pensador do Brasil –e uma figura sem igual. João Ubaldo Ribeiro era um mestre das letras e da irreverência, um gigante da nossa cultura, merecidamente reconhecido mundo afora. Sentiremos muita falta dele"., ADRIANA RATTES, secretária de Cultura do Rio de Janeiro.

"O Brasil perdeu hoje um de seus melhores escritores e uma figura humana extraordinária, uma das mais lúcidas cabeças, referência na literatura e na crítica social. A inteligência, o bom-humor e o senso crítico de João Ubaldo Ribeiro farão muita falta ao Brasil. Mas fica entre nós sua obra imortal, essencial para entender, para compreender o país e para apontar os rumos para um futuro melhor. O meu abraço solidário à sua família e aos amigos", AÉCIO NEVES, candidato à presidência da República (PSDB), no Facebook.

"Lamento profundamente a perda de João Ubaldo Ribeiro, um de nossos maiores escritores. Por meio de sua obra, João nos deixa um inestimável legado. Não posso deixar de citar seu 'Viva o Povo Brasileiro' como um dos melhores retratos de nosso povo. Que Deus conforte seus familiares, amigos e fãs", EDUARDO CAMPOS, candidato à presidência da República (PSB), no Facebook.

"João Ubaldo Ribeiro possuía a sábia combinação de talento, profundidade e bom humor. Autor de clássicos de nossa literatura, dono de ironia fina e escrita prazerosa, sua obra premiada e reconhecida dentro e fora do Brasil alcançou outras linguagens como o cinema e a TV, ajudando a popularizar a literatura. Era um observador perspicaz de nosso país e da humanidade como um todo. A cultura brasileira perde um de seus grandes. A todos os familiares e leitores, expressamos nossos mais sinceros sentimentos", MARTA SUPLICY, ministra da Cultura, em nota oficial.


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