Folha de S. Paulo


Escritor João Ubaldo Ribeiro morre aos 73 no Rio

Autor de clássicos da literatura nacional como "Viva o Povo Brasileiro" e membro da Academia Brasileira de Letras, o escritor baiano João Ubaldo Ribeiro morreu aos 73 anos nesta sexta (18), vítima de uma embolia pulmonar, em sua residência no Leblon, zona sul do Rio. A informação foi confirmada pela assessoria da ABL.

O corpo será velado na sede da ABL, no centro do Rio, a partir das 13h. Pela tradição, membros da Academia Brasileira de Letras são velados na sede da ABL e enterrados no mausoléu da entidade, no cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul da cidade.

O ator e comediante Bento Ribeiro, filho do escritor, agradeceu no Twitter as mensagens de apoio que recebeu.

"Obrigado a todos pelas mensagens. Tchau meu pai. Foi cedo, vai fazer muita falta", escreveu.

Nascido na ilha de Itaparica (BA) em 23 de janeiro de 1941, Ubaldo formou-se em direito na Universidade da Bahia, mas jamais exerceu a profissão. Também estudou ciências políticas nos Estados Unidos.

Escreveu seu primeiro livro, "Setembro Não Tem Sentido", aos 21 anos. O segundo foi "Sargento Getúlio" (1971), uma de suas obras mais célebres, que lhe deu seu primeiro prêmio Jabuti, em 1972 — o segundo viria por "Viva o Povo Brasileiro".

Os regionalismos presentes na obra "Sargento Getúlio", expressões dos costumes e cultura do Sergipe, dificultaram a tradução da obra para inglês, trabalho que acabou sendo feito pelo próprio autor.

Ubaldo também trabalhou como jornalista no "Jornal da Bahia" e do "Tribuna da Bahia", além de colaborar com diversos jornais no Brasil e no exterior, como a Folha, o alemão "Frankfurter Rundschau" e o inglês "The Times Literary Supplement". Atualmente, ele era colunista dos jornais "O Globo" e "O Estado de S.Paulo", dentre outros.

Na Folha, escreveu de julho de 1978 a janeiro de 1981 uma coluna em "Opinião" chamada "Salvador". E, de julho de 1977 a setembro de 1979, escreveu no caderno "Folhetim".

Ele morou em Berlim entre 1990 e 1991, a convite do Instituto Alemão de Intercâmbio (DAAD - Deutscher Akademischer Austauschdienst). No ano passado, durante a na Feira do Livro de Frankfurt, da qual participou, disse sentir "um vínculo cultural com a Alemanha".

Editoria de Arte/Folhapress

Vários de seus livros foram traduzidos para o alemão e para mais de outros 15 idiomas.

Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 7 de outubro de 1993, tornando-se o sétimo ocupante da cadeira nº 34, na sucessão de Carlos Castello Branco.

Em 1999, foi um dos escritores escolhidos para dar depoimento ao jornal francês "Libération", sobre o terceiro milênio.

Em 2008, foi o oitavo escritor condecorado com um Prêmio Camões, principal premiação da língua portuguesa.

O presidente da ABL, Gerado Holanda Cavalcanti, determinou o cumprimento de luto por três dias, e que a bandeira da Academia seja hasteada a meio mastro. "É uma grande perda para a Academia, para o romance e o jornalismo nacionais. João Ubaldo Ribeiro deixa uma obra de excelência. Estamos todos muito chocados com a notícia", disse em um comunicado.

Amigos lamentaram a morte repentina do jornalista baiano. A escritora da Academia Brasileira de Letras Nélida Piñon disse que recebeu uma mensagem sobre a morte do amigo por volta das sete horas da manhã.

"João Ubaldo sem dúvida é um cronista da cidade, do país, com sua ironia, sua independência. É capaz de criticar o poder brasileiro sem o temor de agradar ou desagradar, mas eu gostaria de enfatizar o escritor, o criador, o homem de uma imaginação efervescente que passou sua vida fundamentalmente a fazer obras de criação. Ele já faz parte do panteão brasileiro", disse.

Em agosto, ele iria participar da Bienal Internacional do Livro de São Paulo ao lado de Fernanda Torres. Os dois iriam conversar sobre o processo de escrita do romance de estreia da atriz, "Fim".

A data do enterro ainda não foi definida, pois uma das filhas do escritor está vindo da Alemanha para o Rio. Ele era casado com Berenice de Carvalho Batella Ribeiro, com quem teve dois filhos, Bento e Francisca. Tinha outras duas filhas, Emília e Manuela, de um casamento anterior.


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