Folha de S. Paulo


Exposição de desenhos desconhecidos de Francis Bacon revela seu 'lado B'

Francis Bacon queria que suas obras batessem forte como um "soco no estômago", sem "passar pela razão".

Nesse sentido, o artista britânico, morto aos 82, em 1992, encontrou nos desenhos um método de expressão mais imediato do que a pintura que o consagrou, já que as telas a óleo permitiam mudanças durante o longo processo de produção em seu ateliê.

Bacon enfatizou tanto a fúria por trás dos traços de suas pinturas que nunca reconheceu ter feito ao longo da vida centenas de desenhos, alguns deles, estudos para seus quadros. Como se negasse um planejamento das obras.

Mas, depois de sua morte, desenhos que ele criou entre os anos 1970 e 1990 acabaram vindo à tona —46 deles estarão a partir de amanhã no Paço das Artes, em São Paulo, na exposição "Italian Drawings", que joga luz sobre o lado mais secreto da obra de um dos artistas mais caros do mundo.

No ano passado, um retrato do artista Lucian Freud pintado por Bacon foi arrematado em Nova York por valor equivalente a R$ 332,2 milhões, recorde em leilões.

Nos seus retratos, a figura do papa Inocêncio 10º, inspirada na imagem do pontífice pintada pelo artista espanhol Diego Velázquez no século 17, é uma das mais recorrentes.

Nesse ponto, os desenhos agora no Paço das Artes mostram como, no final da vida, Bacon fez uma revisão depurada de suas obsessões, voltando aos temas de suas telas com técnicas mais livres.

"Ele era obcecado pela imagem do papa de Velázquez. Dizia que era o quadro mais forte que tinha visto", conta Serena Baccaglini, uma das curadoras. "Mas enquanto suas telas a óleo permitiam uma reflexão sobre a imagem, nos desenhos, ele é mais imediato. Ele registra ali suas emoções mais cruas."

Também revê seu método de trabalho com cor, criando colagens com papel colorido em vez de usar tinta e lápis.


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