Folha de S. Paulo


Despedida marca a maior mostra de fotos na França

O clima é de adeus no Les Rencontres d'Arles, uma das mostras de fotografia mais influentes do mundo. A edição iniciada na última semana, no sul da França, é a última versão do festival que terá a marca de seu atual diretor, François Hébel, demissionário após 13 anos.

Sob o tema "Parade", o evento é um desfile de artistas que fizeram parte dessa história de Hébel em Arles, caso do fotógrafo Lucien Clergue, um dos fundadores do festival, e do estilista francês Christian Lacroix, que foi curador do evento em 2008.

Também estão expostas criações de figuras inéditas na mostra, que são velhas conhecidas de Hébel, como o britânico David Bailey, cujo trabalho não era mostrado na França havia 30 anos. Bailey é o fotógrafo que inspirou o protagonista do filme "Blow Up" (1966), clássico do italiano Michelangelo Antonioni.

Sua série "Stardust", criada originalmente para a National Portrait Gallery, em Londres, combina com o clima nostálgico que domina Arles neste ano de 2014.

São cerca de 200 retratos de famosos e anônimos feitos ao longo da carreira de Bailey. Entre as fotografias expostas está um célebre retrato do stone Mick Jagger de 1964.

Todas as imagens expostas foram escolhidas pelo próprio Bailey: "Conheço meu trabalho melhor que qualquer curador". Mesmo assim, ele diz não ter favoritas.

"Gosto de retratos de todos os tipos de pessoas. Todos têm uma história, se você conseguir encontrá-la. Espero que o retrato conte uma história, ao menos a de como me sinto sobre a aparência da pessoa, ou a forma como ela age", afirma, em entrevista à Folha.

Famoso também por fotos de moda, Bailey diz preferir os retratos, já que a moda muda a cada seis meses. Mas as pessoas retratadas também mudam, não? "Bom, elas ficam velhas", diz. Só isso?

"Você tem que olhar os retratos para decidir o que pensa sobre isso. Quero que as pessoas pensem por elas mesmas, não quero levá-las a pensar algo", desconversa.

O festival, que vai até 21 de setembro, também exibe pela primeira vez obras do brasileiro Vik Muniz.

Na série "Álbum", ele usa fotos de famílias desconhecidas colecionadas ao longo de 15 anos para montar cenas comuns da memória doméstica.

"Nunca tive fotos de família. Meus pais nunca tiveram câmera. Quando via fotos dessas sendo vendidas, comprava, quase como se quisesse fazer uma memória de família para mim", diz.

Também estão expostas montagens feitas pelo artista com postais de paisagens turísticas clássicas, como o horizonte parisiense.

TRANSIÇÃO

A saída de François Hébel, 56, ocorreu após um embate com o governo sobre a venda do local de exposições para a iniciativa privada.

"Desde que assumi, em 2002, multiplicamos por dez o número de visitantes. Tenho planos para os próximos dez anos, mas eles foram recusados. O governo vendeu o local e então eu decidi sair, achei uma loucura", afirma.

Em 2013, a mostra recebeu 96 mil visitantes, número recorde. A partir desta edição, o francês Sam Stourdzé, 41, assume a direção do festival. O local que vai abrigar o evento em 2015 não está definido.


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