Folha de S. Paulo


Crítica: Wes Anderson resiste ao cinema realista com fábula graciosa

A visível preocupação com cenários e figurinos e a riqueza de detalhes do desenho de produção podem dar a impressão de que o cinema de Wes Anderson é afetado. Mas as características são parte de um conjunto mais complexo.

Anderson trabalha num campo visual no limite da caricatura, assim como seus personagens. É tão radical nessa opção que, muitas vezes, temos a sensação de estar diante de um desenho ou uma história em quadrinhos.

Tudo isso trabalha a favor de uma ideia maior, uma espécie de defesa da fabulação, uma resistência em tempos em que os filmes precisam ter alguma relação com o "real" para serem legitimados.

Martin Scali/Efe
Atores Paul Schlase, Tony Revolori, Tilda Swinton e Ralph Fiennes em 'O Grande Hotel Budapeste'
Atores Paul Schlase, Tony Revolori, Tilda Swinton e Ralph Fiennes em 'O Grande Hotel Budapeste'

"O Grande Hotel Budapeste" se declara uma homenagem à obra do escritor Stefan Zweig (1881-1942). Anderson limita-se a trabalhar no mesmo universo do autor austríaco, criando uma trama identificada com seu próprio universo de personagens excêntricos e humor fino.

A trama se passa em dois tempos. Em 1968, quando um escritor (Jude Law) ouve a história do proprietário de um hotel decadente, e nos anos 1930, quando o proprietário era apenas um mensageiro, fiel escudeiro do concierge M. Gustave (Ralph Fiennes).

Trama, cenários e personagens evocam uma Europa inocente, anterior ao trauma da Segunda Guerra. Anderson consegue fazer o elogio de um tempo e de uma cultura em um filme cheio de graça e frescor.

O GRANDE HOTEL BUDAPESTE (THE GRAND BUDAPEST HOTEL)
DIREÇÃO Wes Anderson
PRODUÇÃO EUA/Alemanha, 2014
ONDE Anália Franco UCI, Cine Livraria Cultura e circuito
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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