Folha de S. Paulo


'O Grande Hotel Budapeste' estreia e reafirma estética de Wes Anderson

Com suas câmeras movendo-se de lado, cores de pintura antiga, elenco quase sempre fixo e mais miniaturas e fantoches que efeitos especiais, Wes Anderson transformou-se no diretor americano independente mais reconhecido no mundo.

Tanto que seu novo filme, "O Grande Hotel Budapeste", que estreia nesta quinta (3) no Brasil, foi o primeiro trabalho a ultrapassar a bilheteria de US$ 100 milhões. Desde março até agora conseguiu US$ 164 milhões (R$ 361,6 milhões), com orçamento de US$ 31 milhões (R$ 68,3 milhões).

"Wes Anderson está entrando no território de Woody Allen. Estabeleceu uma marca e pode chamar atores do primeiro time para papéis pequenos", diz Phil Contrino, vice-presidente do site BoxOffice.com, especializado nas bilheterias americanas. "O público vai ao cinema porque sabe que terá um refresco dos blockbusters de sempre."

Martin Scali/Efe
Atores Paul Schlase, Tony Revolori, Tilda Swinton e Ralph Fiennes em 'O Grande Hotel Budapeste
Atores Paul Schlase, Tony Revolori, Tilda Swinton e Ralph Fiennes em 'O Grande Hotel Budapeste'

Essa pode ser uma das razões, mas a verdade é que "O Grande Hotel Budapeste" é o filme mais popular do diretor de "Os Excêntricos Tenenbaums" (2001).

Ambientado na ficcional república europeia de Zubrowka, na década de 1930, o longa é uma divertida mistura de comédia farsesca, drama metalinguístico e suspense kitsch, que adiciona novos elementos aventurescos aos ingredientes que tornaram Anderson famoso.

O inglês Ralph Fiennes, novato na trupe do americano, interpreta Monsieur Gustave H., "concierge" do prestigiado Grand Hotel Budapeste, um sujeito cheio de paixão por seu emprego e pelos hóspedes -ao ponto de se envolver com idosas milionárias.

Uma delas aparece morta e Gustave precisa fugir e provar sua inocência com a ajuda do mensageiro Zero (Tony Revolori).

SET NA ALEMANHA

"O Grande Hotel Budapeste" foi rodado em dez semanas na Alemanha, por causa dos incentivos fiscais concedidos pelo governo de lá.

"Fazia muito frio no set e me lembro de ficarmos em uma sala verde tomando café e comendo sanduíches e esperando, esperando e esperando", descreveu Fiennes ao site Collider.

"Havia um ótimo sentimento de camaradagem, porque as condições eram básicas e não havia tratamento especial para ninguém. Isso cria uma boa atmosfera."

Anderson, que sempre entrega storyboards animados para seus atores, teve problemas na escolha de locais para gravar seu filme.

"Eu tinha escolhido uma locação perfeita, mas quando cheguei não era nada daquilo que tinha visto na foto", disse ele. Anderson acabou filmando numa antiga loja de departamentos na cidade de Görlitz, oriente da Alemanha.

"Foi surreal. Passamos tanto tempo no lobby, filmando diferentes cenas, que a loja virou uma segunda casa para todos nós em Görlitz", confirmou Tony Revolori.

O clima de filme dos anos 1930 já colocou "O Grande Hotel Budapeste" na lista de melhores do ano e entre as produções favoritas para indicações ao Oscar.

"Anderson nos deu o que certamente é o único competidor legítimo até agora", declarou Matthew Jacobs, editor de entretenimento do site The Huffington Post.

A revista "Variety" também já o listou entre seus favoritos ao Oscar. Ralph Fiennes dificilmente deixará de ser indicado a melhor ator.

Nada mal para um filme financiado com dinheiro inglês e alemão e dirigido por um sujeito independente, meio esquisito e que parece fora de sua época.

Anderson cria um universo próprio mesmo quando fala de uma época como a Europa pré-Segunda Guerra de "O Grande Hotel Budapeste".

"Tudo já foi feito sobre esse período da nossa história. Crio meus personagens e acho que seus diálogos não parecem naturais o suficiente. Por isso, preciso criar mundos próprios", diz o diretor.

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O ESTRANHO MUNDO DE WES ANDERSON
Cinco sinais de que o filme é dele

A câmera lenta
O recurso, que nos filmes em geral é usado em trechos de emoção, é utilizado pelo diretor em momentos pouco usuais e na maioria das cenas finais

Os fiéis companheiros
Elenco conta com algum dos seguintes atores: Edward Norton, Tilda Swinton, Bill Murray, Jason Schwartzman, Adrien Brody, Owen Wilson e Luke Wilson

O visual de livro infantil
Cores saturadas, ângulos muito abertos e personagens com traços físicos caricatos marcam o visual dos longas, que ficam com cara de ilustrações animadas

Os olhos nos olhos
Cenas com atores mirando diretamente a câmera, sem muita expressão, são uma constante nos filmes de Anderson

As tomadas de cima
O diretor gosta de filmar objetos —cartões, livros, bandejas etc.— sendo manuseados e sempre a partir de uma câmera posicionada no alto


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