Folha de S. Paulo


Identidade fascina Jhumpa Lahiri, autora inglesa de origem indiana

A saga de uma família marcada por uma tragédia é o ponto central do enredo por meio do qual a escritora Jhumpa Lahiri, 46, questiona as transformações políticas e sociais na Índia dos anos 1960.

Apesar de reforçar que "Aguapés" não é um romance político, e sim sobre "vidas humanas num determinado período da história", Lahiri evoca as raízes de seus pais.

A autora nasceu depois que eles migraram para Londres, mas cresceu e estudou nos Estados Unidos, e hoje reside em Roma com o marido e os dois filhos.

"A questão da identidade me fascina. Talvez porque eu não me sinta de lugar nenhum, tendo passado por muitos. Ao mesmo tempo, isso me dá muita liberdade. Creio que estou sempre escrevendo, de alguma forma, sobre a experiência indiana-americana", diz à Folha.

Marco Delogu/Knopf/Bloomberg
A escritora inglesa de origem indiana Jhumpa Lahiri posa para retrato em fevereiro de 2013
A escritora inglesa de origem indiana Jhumpa Lahiri posa para retrato em fevereiro de 2013

A escritora é uma das convidadas da próxima Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), que ocorre entre 30 de julho e 3 de agosto.

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Em "Aguapés", Lahiri conta a história de dois irmãos nascidos em Calcutá. Udayan, o mais novo, envolve-se com uma organização radical de esquerda chamada Naxalism. Quando este é morto, seu irmão mais velho, Subhash, que vive nos EUA, retorna para consolar os pais.

Encontra a viúva do caçula, Gauri, grávida, e se compadece. Decide casar-se com ela e levá-la a Rhode Island. O romance pseudoépico se estende até que Bela, a filha, já tem 40 anos.

Lahiri transita entre formatos. O romance é seu preferido, mas os contos também foram bem recebidos por crítica e público. No ano 2000, ganhou o Pulitzer de ficção pela coletânea "Intérprete de Males". Em 2013, "Aguapés" foi indicado para a lista final do Man Booker Prize.

Também já colaborou em seriados, como na versão americana de "In Treatment", que trouxe em sua terceira temporada uma personagem bengali, Sunil, uma viúva que se muda para os EUA.

"Trabalhei como consultora e me agradou muito o formato. Sou fascinada pelo personagem de Gabriel Byrne [o psicanalista protagonista]. Creio que o argumento de que as séries de TV estão se transformando num gênero de grande criatividade, mais ou menos como ocorreu com o romance no século 19, é correto. Mas eu não assisto a muita televisão, meu mundo é o da leitura e da escritura."

Em sua primeira visita ao Brasil, Lahiri diz que aceitou vir por recomendação do marido, jornalista da revista "Time", que conhece o país, e de outros escritores americanos.

"Dizem que é um ambiente muito especial, numa cidade muito bonita, estou curiosa." Leitora do anglo-indiano Salman Rushdie, diz que espera encontrar no Brasil similaridades com o universo do qual vieram seus pais.

"Imagino que as comparações que ele faz sobre as semelhanças entre a herança colonial e a variedade cultural entre a Índia e a América Latina sejam verdadeiras. Estou ansiosa por conferir."


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