Folha de S. Paulo


Cultura hipster, de camisa xadrez e óculos retrô, entra em decadência

É o fim do caminho, ou melhor, da ciclovia, para os moderninhos de camisa xadrez, óculos retrô, barbas espessas e bicicletas de marcha única.

O estilo hipster, que nasceu nos anos 1990 no Brooklyn nova-iorquino e no East End de Londres e tomou de assalto o Baixo Augusta paulistano, está morrendo, segundo teóricos e estilistas.

Pós-hipsters adotam estética da década de 1990

Os sinais de cansaço dessa cultura, caracterizada pela busca incessante de originalidade, estão mais evidentes.

A American Apparel, um bastião dessa estética com leggings e jeans superjustos e pegada anos 1980, enfrenta sua maior crise, com a demissão de seu fundador e diretor há duas semanas. Ao mesmo tempo, endereços paulistanos que serviam de "poleiros hipster" fecharam as portas.

Já não existe a Tag & Juice, famosa loja-galeria de bicicletas retrô coloridas, nem a Lomography, que vendia câmeras fotográficas analógicas russas em tons berrantes.

Estudos de três consultorias de tendências —K-Hole (Nova York), The Future Laboratory (Londres) e Box1824 (São Paulo)— acabam de diagnosticar o esgotamento dessa estética, que se metamorfoseou em novas versões, mais diluídas.

"A cultura hipster tentava ser um oásis de diferença no ambiente pasteurizado das metrópoles", afirma André Oliveira, da consultoria Box1824. "O grande fetiche do hipster é o autêntico, o único, o especial. Mas todo mundo acaba parecendo um clone seguindo essa moda."

Acabou surgindo um exército de garotos de barba, camisa xadrez e afins. "Uso calça rasgada e óculos grandes", diz o relações-públicas Tiago Horbatow, 24. "Meu estilo é total hipster." Mas ele não se diz um deles —negar o rótulo é um sinal típico de que a pessoa adere ao hipsterismo.

"Nunca me identifiquei com a ditadura estética dos hipsters", afirma André Pollak, 30, criador de uma festa de música eletrônica de graça e na rua, que vem se firmando como um forte reduto do universo pós-hipster.

"'Hip' é o novo, o 'cool'. E o 'ster' indica quem pratica isso", diz o fotógrafo Marcelo Elídio, 25. "O hipster é um integrante da vanguarda."

Para o administrador Felipe Gazz, 30, o que está em decadência é a imagem pela qual o hispter é conhecido, mas a cultura de buscar o novo se mantém viva. "A coisa vai mudando com as novas informações, mas não acaba", diz.


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