Folha de S. Paulo


Peça celebra Foucault com histórias de vidas infames

Em "A Vida dos Homens Infames" (1977), o francês Michel Foucault (1926-84) falava de gente ao mesmo tempo "obscura e desafortunada".

De existências assim trata a peça homônima que estreia no dia 4 de julho, em São Paulo. Foi criada a partir de duas biografias, uma sobre um assassino, outra sobre uma hermafrodita, publicadas pelo filósofo, cuja morte completa 30 anos nesta quarta (25).

Henrique Zanoni e Marcela Vieira juntaram os textos de "Eu, Pierre Rivière, que Degolei Minha Mãe, Minha Irmã e Meu Irmão" (1977) e "Herculine Barbin, Diário de uma Hermafrodita" (1979) para colocar em cena uma peça sem o conteúdo acadêmico do filósofo.

Os dois livros são quase que inteiramente compostos pelos diários pessoais de Herculine, uma hermafrodita forçada a viver como homem que termina por suicidar-se, e de Pierre Rivière, que matou os familiares por "ordem divina".

Felix Nadar/Divulgação
Foto de Felix Nadar em série sobre hermafroditas feita em 1860 e usada na divulgação da peça
Foto de Felix Nadar em série sobre hermafroditas feita em 1860 e usada na divulgação da peça

Nos trechos usados no espetáculo não há interferência de teorias. "Para a dramaturgia, nos impusemos algumas regras: só usamos textos dos diários ou de dossiês médicos e jurídicos. O trabalho foi extrair os trechos e construir a curva dramática da peça, mas não escrevemos nada", diz Zanoni, que faz o protagonista, ao lado de Adriana Guerra.

Os dois também se revezam como médicos, juízes, padres e jornalistas que analisaram e julgaram as histórias.

O espetáculo, da Companhia dos Infames, traz o cineasta Cristiano Burlan (de "Mataram Meu Irmão", 2013) de volta à direção teatral após 14 anos afastado.

PARCERIA

"Foucault aplica o termo 'infame' muito bem: são pessoas que lutam contra o poder, mas não para assumir seu lugar", diz Burlan. "Ele também era um infame. Era uma bicha louca sadomasoquista. E eu me sinto um pouco infame também."

A parceria de Burlan e Zanoni é antiga. Os dois são sócios na produtora Bela Filmes e o ator já protagonizou três longas do diretor: "Sinfonia de um Homem Só" (2012) "Amador" (2013) e "Hamlet" (2014), este último inédito.

"Essa coisa da infâmia tem muito a ver com o que fazemos juntos, com o nosso encontro", afirma Zanoni.

A peça faz parte do projeto "Foucault 30 anos: Um Infame Encontra o Teatro", que também terá ciclos de debate. O resultado dessas conversas deve virar livro.

A VIDA DOS HOMENS INFAMES
QUANDO sex. e sáb. às 21h30 e domingo às 19h30 (de 4/7 a 17/8)
ONDE teatro Pequeno Ato, r. Dr. Teodoro Baima, 78, tel. (11) 99642-8350
QUANTO R$ 40
CLASSIFICAÇÃO 16 anos

CICLO DE DEBATES NO TEATRO PEQUENO ATO

19. jul - Foucault, Filosofia e Teatro
Daniel Pereira (sociólogo) e Ruy Filho (crítico)

26. jul - Dramaturgia e Escrita Infame
Fábio Zanoni (filósofo) e Samir Yazbek (dramaturgo)

2. ago - A Experiência do Teatro
Ana Goldman, Érika Inforsato (Cia Ueinzz) e Maria Eugênia de Menezes (crítica)

9. ago - Subjetividade e Técnicas Psi no Teatro
Luiz Fuganti (filósofo) e Roberto Alvim (dramaturgo)

16. ago - O que é um ator?
Salma Tannus (filósofa) e Companhia dos Infames

Os debates ocorrerão das 17h às 19h


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