Folha de S. Paulo


Escritor americano Paul Auster remonta passado em livros

Aos 67 anos, o escritor americano Paul Auster está olhando para trás. Sua primeira obra em prosa, o livro de memórias "A Invenção da Solidão" completou 30 anos em 2012. No mesmo ano, ele lançou "Winter Journal", seu quarto livro de teor autobiográfico, previsto para ser lançado no Brasil em setembro pela Companhia das Letras.

Na obra, ele tenta remontar momentos importantes de sua vida a partir dos cinco sentidos, tendo como ponto de partida a velhice. Em 2013, lançou "Report from the Interior", espécie de continuação do anterior.

No mesmo ano, em parceria com J.M. Coetzee, publicou "Here and Now", compilação de cartas de teor pessoal trocadas com o escritor sul-africano entre 2008 e 2011.

EFE
O escritor norte-americano Paul Auster em sua casa no Brooklyn, na cidade de Nova York
O escritor norte-americano Paul Auster em sua casa no Brooklyn, na cidade de Nova York

"Se as pessoas hoje vivem até os 80 anos e você dividir a vida em quatro estações, eu cheguei ao inverno. Mas é apenas numérico, não há nada de deprimente nisso", diz Paul Auster à Folha.

Leia entrevista a seguir.

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Folha - Trinta anos depois de "A Invenção da Solidão", por que voltar a escrever livros de memórias?
Paul Auster - Não sei. Simplesmente tive o impulso de fazer isso. "Winter Journal" estava chutando na minha cabeça há algum tempo. E depois que o terminei, percebi que tinha mais a dizer. Então comecei "Report from the Interior".

Por que abordagens tão diferentes?
Penso em "Winter Journal" como um livro sobre o corpo, enquanto "Report from the Interior" é sobre a vida interior. Penso no primeiro como uma composição musical, feita a partir da montagem de partes. Há muitos saltos na narrativa e não é nada cronológico. E isso ocorreu de forma muito intuitiva, fiz pouquíssimas mudanças depois da primeira versão.

No livro seguinte, eu foquei no desenvolvimento interno, o que também tem suas vicissitudes físicas. Considero os dois livros irmão e irmã, eles fazem sentido juntos.

Como aconteceu a sua parceria com Coetzee?
Em 2008, nos conhecemos na Austrália e ficamos amigos. Resolvemos fazer um projeto juntos como uma forma de manter contato e ele propôs que trocássemos cartas sobre qualquer assunto que quiséssemos. Escrevemos já tendo em vista que aquilo se tornaria um livro.

A princípio, isso poderia soar um pouco vago.
Propus que o fizéssemos como se morássemos na mesma cidade e nos encontrássemos de vez em quando para jantar. Essas cartas seriam como as conversas desses jantares, só que em um nível bem mais eloquente.

Quisemos abordar assuntos pessoais e foi muito divertido. Mesmo trabalhando duro nos meus livros, eu sempre encontrava tempo para escrever as cartas e elas me tomavam um dia inteiro. Algumas das cartas têm de seis a sete páginas. Mas valeu a pena.

Quando saiu "Winter Journal", você disse à imprensa que tinha perdido a motivação para escrever ficção. Isso continua?
Eu provavelmente disse isso quando me sentia esgotado. Você não deveria tomar as palavras das pessoas tão a sério [risos]. De um ano para cá, estou trabalhando em um novo romance e vai ser o maior trabalho que eu já fiz.

Ainda faltam anos para eu terminar, mas já escrevi 300 páginas e não estou nem na metade. Não posso falar mais a respeito, mas estou profundamente envolvido.


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