Folha de S. Paulo


Cenas de animais sofrendo marcam diversos filmes no Festival de Cannes

O Festival de Cannes termina neste sábado (24) com a entrega da Palma de Ouro, mas um dos prêmios mais inusitados foi entregue nesta sexta-feira (23): a Palm Dog, que escolhe o melhor cão do evento. O vencedor foi o cachorro –aliás, os cachorros, Body e Luke– do impressionante "White God", filme húngaro que conta a história paralela de uma garotinha conhecendo o duro amadurecimento e a saga de seu cão, abandonado e sofrendo misérias nas ruas de Budapeste.

Os "atores" vieram à Cannes receber a Palma Canina, felizes e de gravata borboleta. Um alívio, já que o longa, escolhido também como o melhor da mostra Um Certo Olhar, traz diversas sequências dolorosas com o simpático Hagen sendo torturado para transformar-se em uma fera nas rinhas.

O filme húngaro, na verdade, é apenas um dos exemplares de produções que trazem sequências com animais sendo mortos ou maltratados em Cannes. Nas duas mostras oficiais, são pelo menos nove filmes com cenas chocantes. Já na primeira produção em competição, "Timbuktu", de Abderrahmane Sissako, vemos uma vaca atravessar um lago de forma errada e sofrer ao ficar presa em uma rede de pesca -exausta, ela é morta pelo dono da rede.

No favorito "Winter Sleep", do turco Nuri Bilge Ceylan, um coelho é leva um tiro e o diretor faz questão de mostrar seus últimos suspiros -há também um cavalo selvagem capturado brutalmente com uma corda no pescoço num rio, onde luta para não se afogar. Os cavalos são as vítimas também em "Foxcatcher", de Bennett Miller. No auge da loucura do personagem de Steve Carell, ele pega uma metralhadora e começa a atirar nos animais -todos puro-sangue premiados mantidos por sua mãe. "Não existiu isso na realidade", contra o diretor. "Foi uma cena para mostrar que John du Pont havia chegado ao limite da insanidade com a morte da mãe."

Há dois cães mortos em outros filmes da competição: em "Maps to the Stars", de David Cronenberg, o astro mirim do longa atira à queima-roupa em um cachorro, animal de estimação de um amigo; e em "Saint Laurent", de Bertrand Bonello, o buldogue do estilista francês morre ao engolir tranquilizantes e pílulas espalhadas no chão do apartamento -Yves Saint Laurent, depois, é visto visitando a lápide do cão e ainda compra mais quatro animais parecidos ao longo dos anos, sempre usando o nome do original morto, Moujik.

Em "Lost River", filme de Ryan Gosling exibido na mostra Um Certo Olhar, a personagem da atriz Saoirse Ronan, perde seu rato de estimação, degolado pelo "vilão" do longa. Na mesma mostra, o documentário "The Salt of the Earth", de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, mostra uma tribo de índios na amazona caçando preguiças com flechadas e depois as carregando como mochilas nas costas.

Esse encontro mais comum entre homem e natureza atinge o clímax no japonês "Still the Water", de Naomi Kawase. Para reforçar que a morte não passa de um ciclo natural, a diretora arma duas longas e realistas sequências com cabras sendo degoladas para a retirada de sangue e consumo na ilha em que o filme utiliza como cenário.

Yves Herman - 23.mai.2014/Reuters
O diretor Kornel Mundruczo posa para foto com Emogin Diamonds (esq.) e seu cão James Blond, em cerimônia da Palm Dog em Cannes
O diretor Kornel Mundruczo, de "White God", posa para foto com Emogin Diamonds (esq.), figura popular em Cannes, e seu cão James Blond, em cerimônia da Palm Dog

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