Folha de S. Paulo


Novos estilistas migram para a internet

As mudanças no sistema da moda, com estilistas sendo forçados a alterar o jeito de vender e de apresentar suas coleções, fazem da internet um canal aberto para novas marcas e nomes.

Segundo um estudo da E-bit, empresa que monitora vendas on-line no Brasil, no ano passado o comércio eletrônico faturou cerca de R$ 28,8 bilhões.

Desse total, 13,7% (quase R$ 4 bilhões) veio do setor de moda e acessórios, que passou a ocupar o primeiro lugar no ranking dos mais vendidos da rede.

Talentos desconhecidos, que saíram das equipes de marcas famosas para abrir seus próprios negócios, ajudam a inflar estes números com uma moda que não se preocupa com as tendências da estação vigente.

Neste ano, segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico, o faturamento desses pequenos e médios empresários deve aumentar 43% em relação a 2013.

O estilista paraense Rogério Vasques, 35, investiu cerca de R$ 1 milhão para abrir sua empresa on-line, a Maison Revolta.

Vasques, que foi o braço direito do alemão Karl Lagerfeld, da Chanel, por cinco anos, e trabalhou com Nicolas Ghesquière quando ele era estilista da Louis Vuitton, diz que, na internet, consegue "chegar a todos os cantos do Brasil, algo que uma loja física não proporciona".

O chamado "couro tropical", que de tão fino pode ser usado nos lugares mais quentes do país, é o carro-chefe de suas coleções. As peças, que vão de vestidos a jaquetas, têm costuras aparentes cor-de-rosa ou laranja -marca registrada da grife.

"O sistema da moda está engessado em temporadas e isso não funciona mais. Por isso, optei por lançar peças conforme a demanda do consumidor e não por estações", explica Vasques.

Essa lógica é a mesma seguida por Marina Sasseron, 32, dona da marca de roupas femininas Nuage. Ex-designer da Ellus e da grife de Alexandre Herchcovitch, suas roupas são sóbrias e podem ser usadas em qualquer estação.

"Na rede, uma marca deve apostar ainda mais em modelagem e em tecidos que atraiam a atenção do consumidor com uma única foto. Além de garantir um bom serviço, porque a compra tem de ser eficaz desde o clique até a entrega para o cliente voltar", diz Sasseron.

Serviço de qualidade e preços competitivos foram características que Bruno Passos, 28, tinha em mente quando abriu a sua marca de camisas, a Conto Figueira.

Os clientes da loja virtual que moram em São Paulo podem provar as camisas em casa antes de comprá-las e, se não gostarem da roupa, podem devolvê-la sem custo. Quem decide comprar a camisa cheia de detalhes da marca recebe o produto em embalagem personalizada.

"A troca de ideias por meio das redes sociais diminuiu a possibilidade de erros, que são fatais para pequenos empresários", diz Passos, que já havia criado para marcas como Reebok e New Balance.

As redes sociais servem de termômetro para o arquiteto Thiego Cunha, 23, que abrirá neste mês a Thiê Studio, marca especializada em acessórios masculinos feitos de couro, corda e metal.

"A formação em arquitetura me dá uma noção de volume e geometria que faz sucesso nos acessórios. E como choviam pedidos na página da grife no Facebook, achei que era hora de investir", conta Cunha, que produz cerca de 400 pulseiras por mês.


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