Folha de S. Paulo


Peça junta palhaço, professor e atriz de TV com texto de versos rimados

Em seu 40º espetáculo como diretor, Alexandre Reinecke reuniu um elenco heterogêneo para a montagem de "A Besta". Buscando atores que tivessem algum tipo de identificação com os personagens, juntou uma trupe diversificada que reflete questões internas do enredo.

Hugo Possolo (Parlapatões) interpreta um comediante popular. Seu contraponto é Elomire (anagrama para Molière), um diretor erudito feito por Celso Frateschi, professor da USP. Mediando o conflito entre os dois está o ator Ary França.

No lado feminino, Priscila Fantin faz a princesa corretinha, enquanto Iara Jamra encarna o papel da criada.

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A partir da esq.: Hugo Possolo, Priscila Fantin e Celso Frateschi
A partir da esq.: Hugo Possolo, Priscila Fantin e Celso Frateschi

"O Hugo é um palhaço que começou na rua; o Celso vem do drama e a Priscila, da TV, com seu papel representando o poder na peça. Esse trio é muito coerente com os personagens", afirma Reinecke.

Conhecido por suas atuações histriônicas, Possolo diz acreditar que a imagem que o espectador tem dos atores reforça essa relação de convergência.

"Cada um de nós tem uma identidade pública fora do teatro. Eu faço Augusto, que é o arquétipo do palhaço excêntrico. Há um componente de autoironia", diz. "É um elenco improvável, estou aprendendo muito com meus colegas", completa Priscila.

A peça, que estreou na Broadway em 1991, retrata o embate entre os protagonistas: o teatro mais hermético, capaz de enriquecer o senso estético, e o comercial, hábil em despertar os sentimentos instantâneos, como o riso.

Com trabalhos no cinema, no teatro e na televisão, Ary França diz que a delimitação da arte em estilos rígidos apenas reduz o leque de possibilidades do ator. "Sempre fiquei bandeando entre essas classificações. Gênero só é bom em locadora de filmes."

O maior desafio do encenador foi dar naturalidade à dramaturgia de versos rimados. Discutiu com o elenco estratégias para garantir a fluência da história, que se passa na França do século 17.

"Às vezes fazemos comentários à parte, tipo uma mesóclise no período. Nós somos 'brasuquinhas', sempre damos um jeito de adicionar nosso tempero", conta França.

"Colocamos o molho antropofágico do Oswald de Andrade em cena. Eu improviso no meio das falas, tudo em cima do verso e das rimas", completa Possolo.

Esse "trabalho democrático" é o que Reinecke diz ter buscado com o elenco. "Antigamente eu ensaiava com o texto mais esquematizado, com as marcações de cena. Hoje desenvolvo a estrutura dramática com os atores."

A BESTA
QUANDO sex., às 21h, sáb. e dom., às 20h
ONDE Teatro Gazeta, av. Paulista, 900, tel. (11) 3253-4102
QUANTO de R$ 50 (sex.) e R$ 60
CLASSIFICAÇÃO 12 anos


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