"Arte em Cena – A Direção de Arte no Cinema Brasileiro" nasceu da necessidade da autora Vera Hamburger de entender a amplitude de sua atividade.
A pesquisa incluiu entrevistas com quatro grandes diretores de arte brasileiros e resultou num volume de leitura prazerosa, repleto de histórias e 600 imagens entre croquis, desenhos, maquetes e fotos de cenários e locações.
A originalidade, os depoimentos e a preocupação didática fazem dele um guia para uma viagem dentro da fábrica criativa dos filmes, um grande making of, interessante para quem gosta de cinema, artes, arquitetura e design e fundamental para estudantes.
| Marlene Bergamo/Acervo BH FILMES/Divulgação | ||
 |
||
| Fotografia de Lula Carvalho e Walter Carvalho (na grua) em filmagem de 'Carandiru' |
Vera Hamburger, arquiteta de formação, começou a trabalhar em cenografia e figurino para teatro em 1985.
Nos quase 30 anos de carreira, atuou em balés, teatro, ópera, cinema e exposições.
Trabalhou com diretores como Hector Babenco, Cacá Diegues, Sérgio Rezende, Tata Amaral, Eliane Caffé, Philippe Barcinski, Walter Lima Jr. e Cao Hamburger. São dela as direções de arte de filmes "Castelo Rá-Tim-Bum", "Kenoma", "Cafundó" e "Hoje", entre outros.
| Livro |
| Arte Em Cena |
| Vera Hamburger |
 |
| Comprar |
"Arte em Cena" se divide em duas partes. Na primeira, a autora conta a história da profissão, mostra conceitos que norteiam a criação e trata das relações entre direção geral, direção de fotografia e direção de arte.
O livro localiza as origens da profissão no cinema americano dos anos 1930, quando William Cameron Menzies assina os créditos de "E o Vento Levou" como "production designer", sendo responsável pela unidade visual do filme.
Segundo a autora, no Brasil, a adoção da figura do diretor de arte é recente. Cenógrafos como Flávio Império e Anísio Medeiros, entre outros, atuantes nos anos 1960 e 1970, passaram a assumir a concepção e produção de figurinos e maquiagem sem receberem o crédito de diretores de arte.
Só em 1985 teria sido dado o primeiro crédito explicito a Clóvis Bueno, em "O Beijo da Mulher Aranha", coordenando equipe que tinha Felippe Crescenti na cenografia e Patricio Bisso nos figurinos.
"Arquiteto do efêmero", como define Carlos Augusto Calil no prefácio do livro, o diretor de arte estabelece conceitual e materialmente o ambiente a ser filmado.
Lidera o trabalho de figurinistas, maquiadores, cenógrafos, decoradores de cenário, contrarregras, aderecistas, carpinteiros, pintores, modelistas, criadores de efeitos especiais, designers e artistas plásticos.
Na segunda parte do livro, estão depoimentos de Pierino Massenzi, Clóvis Bueno, Marcos Flaksman e Adrian Cooper, com filmografias completas.
Os entrevistados e a própria autora recontam processos de trabalho de 25 produções, de 1954 até os anos 2000.
Entre os processos de produção e filmagens comentados estão filmes como "A Marvada Carne" e "Desmundo", com direção de arte de Adrian Cooper, "Irma Vap – O Retorno" e "O Xangô de Baker Street", com a de Marcos Flaksman, "Carandiru", "O Beijo da Mulher Aranha" e "Pixote", de Clóvis Bueno, e "O Cangaceiro", de Pierino Massenzi.
Essa parte da reconstrução filme a filme está repleta de ótimas histórias. Pierino Massenzi (1925-2009), que entrou nos estúdios da Vera Cruz como pintor de parede, projetou a primeira cidade cenográfica da América Latina para a filmagem de "Tico-Tico no Fubá" (1952).
Sobre o filme, conta ele: "Mais uma vez, tivemos muitos problemas com o dinheiro. Chegou a ponto de o circo que alugamos para filmar ir-se embora, pois o dono não recebeu. Só ficou a lona, e tive que construir tudo: arquibancada, picadeiro, palco para banda, os bastidores e nada mais nada menos que cem silhuetas de pessoas para pôr no meio da figuração, pois não havia mais dinheiro para pagar os figurantes".
ARTE EM CENA - A DIREÇÃO DE ARTE NO CINEMA BRASILEIRO
AUTORA Vera Hamburger
EDITORA Senac SP
QUANTO R$ 218 (420 págs.)
LANÇAMENTO nesta quarta (21), às 20h30, no Sesc Pompeia, r. Clélia, 93, tel. (11) 3871-7700
AVALIAÇÃO ótimo