Folha de S. Paulo


Crítca: No rap, todos são manos, todos são humanos

Juntou muita gente para ver o show que marcou a volta do RZO (Rapaziada da Zona Oeste) no palco Júlio Prestes, na Virada Cultural.

Depois de um hiato de dez anos, Helião, Sandrão e o DG Cia haviam tocado juntos uma música para homenagear Chorão (1970-2013) em abril passado, mas o show oficial de retorno foi o deste domingo (18), às 12h.

Pontualidade e serenidade marcaram essa volta centrada nos sucessos antigos. A maconha corria solta, e a maioria dos presentes sabia cantar trechos das extensas letras. O RZO é parte da história do rap nacional, e reconhecidamente abriu caminho para as gerações mais jovens.

Em suas letras predomina a voz explícita da periferia, o cotidiano duro, a violência —em especial a da polícia—, mas também uma religiosidade difusa, até mesmo ingênua, como em "O Mensageiro". É uma poética eminentemente masculina.

Musicalmente a graça do rap está na velocidade e assimetria das frases rimadas, na eletricidade dos versos criados sobre uma base sonora fixa e monótona. Nos melhores casos, há um importante componente de improvisação na criação que narra essa resistência dos excluídos.

Nesse sentido, as métricas do RZO são em geral muito estáveis —pelo menos se a compararmos com nomes como o americano Jay-Z ou o brasileiro Emicida. Mas, por outro lado, é inegável o fato de ambos enaltecerem a importância do RZO (basta lembrar que DG Cia foi convidado pelo próprio Jay-Z para fazer parte de sua gravadora).

O show esquentou com "Respeito é pra Quem Tem", a primeira homenagem ao rapper Sabotage (1973-2003), seguindo com "Paz Interior" —com o preciso refrão "a maior malandragem do mundo é viver"—, "Pirituba Parte 2" e "Rolê na Vila".

Como a estrutura eletrônica da música do rap é preparada com antecedência, há menos apelo visual do que no rock, onde tudo depende da performance dos instrumentistas. Por isso, talvez, o público interiorize mais o impacto das letras e da batida.

Há algo no rap que nivela a humanidade: é o denominador comum em que "todos são manos, todos são humanos".

RZO
AVALIAÇÃO bom


Endereço da página: