Folha de S. Paulo


Prefeitura não cogita acabar com a Virada, segundo secretário da Cultura

Fracassaram as tentativas da Prefeitura Municipal de São Paulo e da Secretaria de Segurança Pública do Estado de conter a violência na Virada Cultural, que terminou neste domingo (18) às 18h.

A reportagem da Folha presenciou ao menos 18 casos de arrastão na madrugada de sábado para domingo, em diferentes pontos da região central. As detenções passam de cem, mas não há um balanço oficial.

Editoria de Arte/Folhapress

Duas pessoas foram baleadas e outras duas, esfaqueadas. Os quatro estão em estado grave, segundo a Santa Casa, que atendeu 80 pacientes durante o festival —de vítimas de ladrões a pessoas que passaram mal no evento.

Apesar de o perímetro da Virada ter sido reduzido em 20% em relação ao planejado, por recomendação da Polícia Militar, a violência deu o tom mais uma vez no evento, que no ano passado deixou saldo de duas mortes.

O prefeito Fernando Haddad (PT) e a Polícia Militar não quiseram se pronunciar sobre os crimes, diferentemente do que fizeram em 2013, quando o público da madrugada também sofreu com arrastões. Não houve entrevista coletiva ao final, como é a praxe.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Prefeitura, mas foi informada de que Haddad não comentaria o assunto.

A Secretaria de Segurança Pública informou apenas que a PM fez 13 mil "abordagens" durante a Virada (quando o policial para e revista suspeitos). A corporação ficou de apresentar balanço das ocorrências nesta segunda (19).

"O arrastão foi absolutamente pontual", disse o secretário de Cultura, Juca Ferreira, à Folha. "Tivemos uma ação muito eficiente da polícia e da Guarda Civil. Tivemos alguns casos mais graves, mas, infelizmente temos um nível de insegurança na cidade. Não é nada que tenha prejudicado o evento."

Nesta edição, a Virada custou 13% a mais do que no ano passado (R$ 13 milhões em 2014), apesar de menos palcos e atrações de peso.

"Não fracassou [a estratégia]. Se você olhar as estatísticas de segurança na cidade, o ano inteiro temos problemas", disse o secretário.

A prefeitura não cogita acabar com o evento. "Para o ano que vem, vamos trabalhar para que a Virada seja autofinanciável através de patrocínio." Foi a primeira vez que a Virada teve patrocínio —da Petrobras.

Às 4h30 da manhã, a reportagem viu agentes da PM apontando armas para o público no largo São Francisco.

CANCELAMENTOS

Para além dos arrastões, a Virada terminou com gosto de decepção para quem aguardava o grupo americano de R&B Martha Reeves & The Vandellas, uma das principais atrações internacionais. Os gaúchos da Apanhador Só e a cantora romântica Roberta Miranda também cancelaram seus shows em função da chuva, que começou a cair a partir das 16h30.

Antes, a cantora Céu, que subiria ao palco Rio Branco às 17h, também já cancelara seu show devido à chuva. O funkeiro MC Gui teve o mesmo problema na 25 de Março.

O tempo também prejudicou a programação infantil da Viradinha na praça Roosevelt. Principal atração, a banda Pato Fu não pôde tocar. No Arouche, às 16h30, caiu granizo enquanto a funkeira Valesca cantava.

O público encharcado já deixava o local quando ela disparou o hit "Beijinho no Ombro", que fez grande parte dos desistentes dar meia volta e aguentar mais no frio.

Na madrugada e na manhã de domingo, de última hora, outras duas bandas cancelaram seus shows. Os rappers do grupo Pollo alegaram falta de segurança, no palco da 25 de Março. Segundo o produtor, Rafael de Melo, havia brigas no local e os camarins haviam sido invadidos.

O tradicional grupo paulistano Demônios da Garoa também não tocou na manhã de domingo. Conforme Odilon Mário Cardoso, empresário do grupo, a produção da Virada não deixou os músicos instalarem sua própria mesa de som. Sérgio Rosa, o Pimpolho, integrante do Demônios, disse que o tamanho do palco era inadequado e que houve desrespeito.

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