Folha de S. Paulo


Moradores do Arouche planejam festa em 'terração cultural' durante a Virada

Quem for ao palco do Arouche nesta 10ª Virada Cultural vai ter algumas surpresas —além da substituição do show de Tati Quebra Barraco, que não vai mais participar, por uma apresentação da cantora Vanusa, à 1h deste domingo (18).

Alguns moradores da região estão programando uma festa musical para acompanhar os shows, como a que fizeram na Virada de 2013.

No ano passado, a festa foi na sacada de um prédio antigo do Largo do Arouche, onde três bandas que alugaram equipamento por conta própria tocavam rock nos intervalos dos shows oficiais.

"A gente abriu para o Luiz Caldas! Fiquei muito lisonjeado. Não sei se ele ouviu, mas foi bem divertido", diz Pedro Couto, vocalista do Hooker's Mighty Kick, um dos grupos que se apresentaram no "varandão cultural".

De acordo com Couto, a recepção do público foi boa. "Talvez isso será o nosso maior público durante um bom tempo!", ri. A banda planeja repetir a dose, mas ainda não escolheu o local.

A dona do "varandão", a arquiteta Thaís Nuzzi saiu do Arouche, mas deve voltar ao antigo prédio como convidada. De acordo com ela, os ex-vizinhos pretendem fazer um "terração cultural".

"Se rolar, vou ficar por lá para curtir o palco brega", afirma.

Para os menos festeiros, o megaevento que atraiu 4 milhões de pessoas no ano passado pode ser uma verdadeira tortura. "A virada é uma das piores coisas que tem pra nós. Há muito desrespeito", diz Sebastião Fonseca, que mora há 22 anos no Arouche.

Giovanni Bello/Folhapress
Sebastião Fonseca, síndico do prédio que fica em frente ao palco do Largo do Arouche
Sebastião Fonseca, síndico do prédio que fica em frente ao palco do Largo do Arouche

Síndico do prédio que fica em frente ao palco, Fonseca afirma que o barulho já chegou a quebrar a vidraça de um dos apartamentos. "É terrível, para sair do prédio a gente tem que pedir licença pro pessoal, que acha que é dono do pedaço".

A cabeleireira Íris Santos diz que já comprou protetores auriculares para tentar dormir ao menos um pouco durante a festa. "Em Higienópolis nunca teria um show desses. Só porque somos pobres e moramos no Arouche, temos de passar por isso?"

A Virada 2013, marcada pela violência, deixou Eliana, 31, receosa. Mãe de uma pré-adolescente e um bebê de 4 meses, ela disse que ficará em casa com os filhos.

"Se não fosse tão violento, eu até levaria os dois para dar uma olhada, mas não vale a pena", afirmou a pernambucana, que mora na alameda Barão de Limeira há três anos e é atendente de uma lanchonete na República.

"Ano passado trabalhei a madrugada inteira, mas acho que não vamos abrir este ano, porque teve muito arrastão".


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