Folha de S. Paulo


Filme de Atom Egoyan sobre pedofilia é vaiado em Cannes

As primeiras sonoras vaias do 67º Festival de Cannes finalmente surgiram nesta sexta-feira (16). E o homenageado foi o egípcio naturalizado canadense Atom Egoyan, que exibiu seu thriller sobre pedofilia "Captives" no terceiro dia de competição pela Palma de Ouro.

O longa não foi vaiado por cenas chocantes ou perturbadoras, mas por ser um suspense infantil derivativo. De certa forma, seria como se a Disney tivesse topado financiar um projeto sobre um grupo de pedófilos em Niagara Falls, fronteira dos Estados Unidos com o Canadá: não há violência, nem explícita ou psicológica.

Impossível não imaginar que Egoyan quis surfar na onda de "Os Suspeitos", um suspense dirigido por outro canadense (Denis Villeneuve), e sucesso de bilheteria e crítica, ano passado. Mas ele fracassa em vários sentidos. A história segue o sequestro misterioso de uma garotinha e entra em uma narrativa quebrada bem amarrada que vai até oito anos depois de seu desaparecimento —quando a polícia acha ter descoberto um círculo de pedofilia armado por homens poderosos da região.

O vai-e-vem temporal é a melhor coisa do thriller, porém falta todo o resto. De cara, já sabemos que a menina está sendo mantida em cativeiro, mas sem o menor abalo psicológico, bem tratada e até aprendendo a tocar piano. Sua função é levar outras crianças para os criminosos. Mas não há crimes em ação, cenas que mostrariam o impacto das ações desses homens ou o soco no estômago que um suspense requer —algo que o cineasta fez bem, por exemplo, em "Exótica".

Já em "The Captives", Egoyan tenta apostar no lado comercial (conta até com o também canadense Ryan Reynolds não comprometendo no papel do pai da sequestrada) até no final feliz, sem sequelas. Quase um conto de fadas de tema subversivo, onde ninguém parece sentir o peso de atos horrendos.


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